Em congresso, médicos defendem uso de hormônios para adiar o envelhecimento
Ao menos por enquanto, o elixir da juventude eterna existe apenas na ficção. Mas alguns médicos garantem que é possível, sim, retardar os principais processos do envelhecimento. Reunidos em um congresso em São Paulo que começa nesta sexta-feira (19), especialistas da chamada medicina antiaging (antienvelhecimento) garantem que, ainda que não seja possível viver jovem para sempre, dá para se manter com a aparência e o bem-estar da juventude por muito mais tempo. A promessa, no entanto, é vista com descrédito pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Os palestrantes do 2º Congresso Latino-Americano da World Society of Anti-Anging Medicine (WOSAAM), que vai até domingo (21), abordarão os resultados de terapias de prevenção de doenças à base de hormônios como testosterona, estrogênio, ocitocina e relaxina.
“O principal objetivo do evento é mostrar as vantagens desse novo modelo de medicina que, afinal, nem é assim tão novo; já existe há 22 anos”, afirma o médico Ítalo Rachid, diretor científico do Grupo Longevidade Saudável e um dos introdutores no Brasil do antiaging, que não é considerado uma especialidade pelo Conselho Federal de Medicina.
Um dos principais nomes do encontro é o médico belga Thierry Hertoghe, presidente da WOSAAM, que pretende mostrar estudos sobre como é possível reverter o envelhecimento e a perda muscular com o uso de insulina de longa duração e de hormônio do crescimento. Outro assunto em pauta é a possibilidade de se reverter o envelhecimento dos cromossomos - e, por consequência, o envelhecimento global – induzindo-se a síntese de uma enzima conhecida como telomerase.
HORMÔNIO CONTRA A DOR
E A FAVOR DA APARÊNCIA
Cabelos e unhas mais fortes, pele revigorada, sono melhor, libido aumentada e redução da dor. Para o anestesista americano Samuel Yue, tudo isso pode ser conquistado com a reposição de um hormônio chamado relaxina. Yue é um dos palestrantes do 2º Congresso Latino-Americano da World Society of Anti-Aging Medicine, que começa nesta sexta-feira (19), em São Paulo. Ele vai apresentar resultados de estudos e de sua experiência com o uso da substância.
Segundo Rachid, o ser humano tem seu apogeu entre os 25 e 30 anos. Depois disso, começa a experimentar uma queda na produção de hormônios, o que leva a sintomas como perda de massa muscular e óssea, diminuição da capacidade cognitiva e imunológica, além de deixar o corpo predisposto a inúmeras doenças. “Na natureza, nenhum animal tem qualquer utilidade depois que passa sua capacidade reprodutiva. A medida em que estamos aumentando a expectativa de vida, aumentam as chances de as pessoas terem doenças. A medicina antiaging é preventiva”, diz.
A partir dos 25 anos
A terapia hormonal antiaging é, portanto, indicada por Rachid para todo mundo a partir dos 25, 30 anos, não apenas para quem tem doenças ou incômodos com a aproximação da velhice: “Deve-se fazer um exame de dosagem hormonal em laboratório, identificar em que momento e qual hormônio está em declínio, para então se fazer uma reposição com hormônios bioidênticos pelo período necessário".
Hormônios bioidênticos são aqueles que têm exatamente a mesma estrutura química e molecular dos produzidos pelo nosso organismo, apesar de serem fabricados em laboratório.
Segundo Rachid, o paciente deve ser acompanhado pelo médico em consultas periódicas com intervalos de no máximo seis meses, para ajustar a dose de hormônios. O tratamento pode perdurar até o fim da vida. Ele afirma, ainda, que as quantidades receitadas de hormônios bioidênticos, feitos em farmácias de manipulação, são seguras. “Eles são produzidos sinteticamente, mas esculpidos tal e qual os naturais. Portanto, são reconhecidos pelos receptores como algo próprio do organismo”, explica.
Rachid diz que os pacientes que fazem a reposição de hormônios se sentem mais bem dispostos e adoecem menos. “Temos ferramentas para que as pessoas envelheçam de forma mais saudável. Não dá para evitar o envelhecimento, mas podemos controlar a velocidade do processo”, afirma.
Para a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o uso de testosterona pode despertar células cancerosas na próstata
Polêmica
Para médicos geriatras, no entanto, a receita para se manter jovem por mais tempo está mais ligada a hábitos e comportamentos do que a hormônios ou suplementos de vitaminas.
Na lista de atitudes pró-juventude estão ter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos regularmente, manter o cérebro ativo, evitar o cigarro e o excesso de álcool. E quanto antes esses bons hábitos começarem, melhor. Tudo mais são promessas sem fundamento.
“A velhice não precisa ser a pior fase da vida, mas o envelhecimento é um processo inexorável. Como as pessoas não querem envelhecer e a medicina não é capaz de evitar isso, surgem nesse vácuo propostas fantasiosas, que têm mais a ver com um objetivo comercial, de atender a essa demanda”, afirma o médico Salo Buksman, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Para Buksman, o antiaging parte de um pressuposto errado, de que a queda hormonal seria a responsável pelos demais sintomas do envelhecimento. “A teoria da modulação hormonal tem uma premissa falsa, porque o declínio dos hormônios apenas faz parte de um conjunto de processos ligados ao envelhecimento. Há estudos indicando que essa diminuição pode até ter um efeito protetor contra alguns tipos de câncer”, diz.
A reposição hormonal, defende o diretor da SBGG, deve ser feita apenas em casos de exceção, quando há uma queda abrupta e acima do normal, e quando esse declínio traz sintomas importantes para a vida da pessoa. “Isso deve ser feito com muito critério e pelo menor tempo possível, porque os hormônios também têm contraindicações. Dar testosterona pode, por exemplo, despertar uma célula cancerosa na próstata. O hormônio do crescimento pode provocar dores de cabeça, apneia do sono, diabetes e cânceres”, afirma.
Manipulados
Outro problema da medicina antiaging, na visão de Buksman, é o uso dos hormônios bioidênticos manipulados. Segundo ele, esses produtos podem causar riscos, pois a fiscalização sobre eles é menos intensa e, em geral, são vendidos sem bula.
Em resposta a críticas de que seus tratamentos não têm comprovação e podem até ser perigosos, Rachid diz que há muita “má fé” e descompromisso com a atualização entre os médicos mais tradicionais. “Para muitos está faltando estudar um pouco mais. Convido todos os críticos a participarem do congresso e debaterem”, afirmou.
“No Brasil essa medicina já é praticada por 2.000 médicos, de 31 especialidades diferentes - como endocrinologistas, cardiologistas, neurologistas etc – e atende a quase 500 mil pessoas. Se estivesse trazendo prejuízos, já haveria muita gente reclamando; e não há”, diz Rachid. Ele também rebate o argumento de que se trata de uma prática puramente comercial: “Muito cara é a doença, uma diária de UTI. Mas talvez reduzir as doenças não seja tão interessante para alguns.”
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.