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Relatos de exagero no culto ao corpo expõem risco de anabolizantes e dietas

Thiago Barbosa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Thiago Barbosa diz que chegou a tomar composto de anabolizantes usados em cavalos
Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

11/12/2014 06h00

Não basta eliminar aquela barriga de chope, fazer a sobrancelha, cortar barba e cabelo com estilo ou usar roupas elegantes. A imagem que muitos homens buscam para si mesmos precisa ter um corpo definido, cheio de músculos. E o problema para alguns é o risco a que eles se submetem para alcançar o que consideram um ideal de beleza.

Ao longo dos últimos dias, o UOL recebeu relatos de internautas sobre os limites da obsessão por um corpo perfeito. Entre as mensagens recebidas, uma parcela significativa foi enviada por homens, e muitos chamaram a atenção para os danos causados pelo uso de anabolizantes e por dietas e remédios encarados como um atalho para perder gordura.

"Cinco anos atrás, eu usava anabolizantes para que, ao treinar, tivesse um efeito legal. Fiquei viciado. Cheguei a usar um composto para cavalo", contou o assistente de negócios Thiago Barbosa, do Rio. "Usei muitos compostos proibidos. Porém, para quem usa muito, o resultado é desastroso no futuro."

"Um dia, tomei creatina em pó, e aí meus rins começaram a ter problemas. Tive excesso de cálculos renais, várias crises e duas cirurgias", acrescentou. "Atualmente, sofro ainda com dores, terei que operar novamente em 2015."

Além das consequências para a saúde, Thiago também teve de lidar com outros efeitos colaterais causados pelo uso de substâncias proibidas. No caso dele, a busca por mais músculos teve um resultado contrário do que ele esperava.

"A textura da minha pele não é mais a mesma. Com tanta toxina desses remédios, tive um aumento das crises de dermatite. Engordei, ganhei celulite e estrias, ou seja, tudo errado para um corpo perfeito", diz o morador de Bangu. "Tenho 26 anos e nunca mais utilizarei esses produtos."

Transtorno, vício e saúde

Muitas vezes, a insatisfação com o próprio corpo pode ser resultado de um outro problema, que também exige acompanhamento médico. Trata-se do transtorno dismórfico corporal, ou dismorfofobia, que ocorre quando uma pessoa tem uma preocupação obsessiva com um defeito pequeno, ou que sequer existe, em sua aparência física.

"Em geral, são as mulheres que têm mais este tipo de problema. Mas, mais recentemente, ele também tem aumentado entre os homens", afirma a psiquiatra Ana Gabriela Hounie. "Com a popularização do fisiculturismo e do uso de anabolizantes, até criaram um termo novo, que é a vigorexia, quando o cara é todo fortão, saradão, mas se olha no espelho e se acha esquálido."

A psiquiatra afirma que também há casos de pessoas viciadas em atividade física e, nessas situações, o que o determina o limite entre um hábito saudável e um problema de saúde é a sensação de prazer ou sofrimento que os exercícios proporcionam.

"O exercício físico pode viciar porque a liberação de adrenalina e endorfina é prazerosa", diz a médica. "O problema é quando isso foge do normal, e a pessoa prefere fazer exercícios em vez de sair para namorar ou ir ao cinema, por exemplo. Ela limita toda a outra parte da vida dela porque o exercício físico toma um lugar preponderante."

Vinicius Heltai - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Vinicius Heltai diz que perdeu 45 kg sem usar nenhum remédio
Imagem: Arquivo pessoal

Para o engenheiro Vinicius Heltai, 29, de São Paulo, a busca por um corpo saudável teve um final feliz.  Mas, antes, ele também sofreu com tentativas frustradas de eliminar gordura por meio de dietas e remédios que, segundo o paulista, "prometiam de tudo".

"Eu passava mal, perdia peso e ganhava rapidamente tudo de novo. Fui descobrir que somos o que comemos e como vivemos de um tempo pra cá", disse Vinicius, em relato enviado ao UOL pelo Whatsapp (11) 97500-1925. "Mudei meu ritmo de vida, perdi 45 kg com redução alimentar e sem remédio."

"Os remédios me traziam insônia, agitação, irritação e eu suava muito. Com as dietas, eu tinha fraqueza, perdia três, quatro quilos e não conseguia manter por mais de duas semanas. Voltava tudo", acrescenta o engenheiro. "Percebi que pequenas coisas faziam toda diferença."