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Engenheiro cria cadeira de rodas que vira triciclo motorizado

Com apenas 11 meses de idade, o agente administrativo Marcos David teve paralisia infantil e perdeu o movimento das pernas. Depois de transformar sua cadeira de rodas em um triciclo, a vida ficou mais fácil, segundo ele - Divulgação
Com apenas 11 meses de idade, o agente administrativo Marcos David teve paralisia infantil e perdeu o movimento das pernas. Depois de transformar sua cadeira de rodas em um triciclo, a vida ficou mais fácil, segundo ele Imagem: Divulgação

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

04/05/2015 19h07

Com apenas 11 meses de idade, o agente administrativo Marcos David teve paralisia infantil e perdeu o movimento das pernas. Sem poder caminhar, as coisas do dia-a-dia sempre sempre foram mais difíceis para ele. Até que há cerca de dois meses, David, hoje com 41 anos de idade, conheceu um mecanismo que mudaria sua vida e facilitaria muito sua rotina, sempre tão difícil: o Kit Radical Livre.

Criado pelo engenheiro mecatrônico Júlio Oliveto Alves, 30, com o intuito de facilitar a locomoção de pessoas que têm mobilidade reduzida, o Kit Radical Livre é acoplado na cadeira de rodas e a transforma em triciclo. O aparelho tem motor elétrico e bateria de 20 quilômetros de autonomia.

“Tudo sempre foi muito difícil. Fazer coisas simples, como ir à feira, eram quase sonho. E quando eu saía sozinho, precisava sempre pedir ajuda pra alguém. Agora eu me sinto mais livre, tenho mais autonomia e não preciso depender de ninguém. A sensação de liberdade é a melhor coisa que alguém nessa situação pode sentir”, disse.

A pesquisa para a criação do kit começou há cinco anos durante o projeto de mestrado em engenharia mecânica de Alves e, em 2011, o primeiro protótipo foi concluído. O lançamento do kit e disponibilização ao mercado ocorreu no início de abril, durante a 14ª edição da Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade (Reatech).

O equipamento, que se adequa à necessidade de cada usuário, já está sendo utilizado, além de São Paulo, por cadeirantes de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. “Minha prioridade sempre foi conseguir uma forma de dar um novo estilo de vida ao cadeirante, facilitar a vida dele ao máximo”, contou Júlio, que, apesar de não ter nenhum deficiente físico na família, teve o desejo despertado ao ver pessoas com dificuldade de locomoção.

Para Marcos, o kit tem sido prático e eficiente. “Em um bairro como o Itaim Paulista, em São Paulo, por exemplo, onde eu moro sozinho e as dificuldades de acessibilidade são muitas, um equipamento como esse veio realmente para mudar minha vida. Estou há cerca de dois meses com meu triciclo, mas já consigo fazer tanta coisa que antes não fazia, que não me imagino mais sem ele”, contou Marcos.

Sentimento semelhante ao de Marcos vive a pedagoga aposentada Rita de Cássia Orsini, de 56 anos. Moradora da Vila Mariana, em São Paulo, Rita teve as duas pernas amputadas há 11 anos por conta de uma infecção e pensou que nunca mais poderia sentir o prazer de estar livre pela rua, até que descobriu o equipamento.

“É uma sensação de liberdade maravilhosa. Antes, eu dependia do carro pra tudo. Poder chegar ao shopping, ao mercado, por exemplo, pela calçada, é sensacional. E pra mim, a sensação foi ainda melhor porque eu me sinto na minha antiga moto. O aparelho me proporciona um misto de tranquilidade, segurança com liberdade indescritível”, concluiu.

O equipamento poderia estar no mercado há mais tempo. Depois de o ficar protótipo pronto e o requerimento da patente ter sido enviado em 2012, o engenheiro chegou a apresentar a ideia em duas feiras, mas não houve interesse de parceira de nenhuma empresa do setor.

O engenheiro resolveu, então, empreender com a ajuda do irmão, o administrador de empresas Lúcio Oliveto Alves e criar a empresa Livre – Sistemas Motorizados Multifuncionais, sediada em São José dos Campos (SP).

“A reação dos cadeirantes que testavam o equipamento me motivou e não me deixou desistir. Eles pareciam criança com brinquedo novo. E eu sabia que poderia fazer a diferença na vida deles, por isso decidimos abrir a empresa”, disse.

Como funciona

O Kit Radical Livre é composto por uma roda dianteira, um motor elétrico (com acelerador eletrônico disponível no guidão), freio duplo, bateria, um par de retrovisores e farois dianteiro e traseiro. “Para mim, o importante é ver o sorriso no rosto de cada usuário que nesse veículo esquece que está em uma cadeira de rodas. E, além disso, o design ficou tão interessante que até quem não é cadeirante sente vontade de guiar”, concluiu.

O kit já foi lançado com 10 versões diferentes, com variedade de cor, motor, bateria, velocidade e tamanho do pneu. A versão básica, com potência de 350w e roda-padrão de 20 polegadas, custa R$ 4.990. Com as diversas combinações, o preço pode chegar a R$ 8.500, incluindo uma bateria reserva. 

Serviço:

radical@kitlivre.com