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Cientistas avançam em remédio para evitar contágio do vírus da zika

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

24/03/2016 06h00

Um grupo de cientistas tem avançado na pesquisa por um remédio que evite o contágio pelo vírus da zika. Realizado principalmente por norte-americanos, o estudo está em fase pré-clínica e é feito com drogas já existentes, como as utilizadas para conter a malária. A meta é que testes clínicos sejam realizados antes dos Jogos Olímpicos de 2016, que começam em agosto no Rio de Janeiro.

"Precisamos de outras opções enquanto vacinas estão sendo desenvolvidas. Uma importante descoberta é que nós identificamos drogas que possuem atividade (em testes de laboratório) contra o vírus da zika", explicou Robert W. Malone, diretor da farmacêutica Atheric Pharmaceutical e parte do grupo de pesquisa Zika Response Group.

A expectativa é que sejam necessários ao menos três anos para que fiquem prontas as vacinas contra o vírus. Até o momento, existem 23 projetos de vacina em desenvolvimento nos EUA, França, Brasil, Índia e Áustria, segundo a OMS. A entidade afirmou ainda que acredita que a vacina só fique pronta após o fim deste surto do vírus.

"Estamos acelerando o desenvolvimento desses remédios em cooperação com a OMS, Departamento de Saúde dos EUA e esperamos começar a trabalhar juntamente com o Ministério da Saúde do Brasil, OPAS e Fiocruz", explica Malone. 

De acordo com o cientista, os testes envolvem a contaminação de células in vitro por vírus da zika e o posterior combate com diferentes drogas. Os remédios que combatem a malária, como a amodiaquina, apresentaram resultados satisfatórios. Os primeiros testes apontam que o composto pode bloquear a infecção das células pelo vírus, conta o pesquisador. 

A amodiaquina já foi utilizada no passado no Brasil no tratamento da malária, explica André Siqueira, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz. Ela é um dos princípios ativos de um remédio de baixo custo usado em países africanos contra a malária. O ASAQ custava, em 2014, menos de US$ 1 para o tratamento de três dias dado a adultos, segundo informações da fabricante Sanofi.

Nosso foco é em drogas profiláticas que podem ser disponibilizadas por um baixo custo em todo o mundo e que são seguros para serem usados por grávidas. É muito mais fácil prevenir a infecção do que curar uma existente. Mas é muito cedo para especular isto"

O grupo norte-americano pretende começar testes clínicos em humanos antes mesmo dos Jogos Olímpicos de 2016. Para isso, Malone diz que será preciso "muito trabalho e sorte", além de recursos para a pesquisa. Se esses remédios se tornarem efetivos, podem chegar ao Brasil após autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). 

Epidemia como a da Aids?

Agora envolvido em testes com o vírus da zika, Robert Malone participou em grupos que fizeram testes de retrovírus contra o HIV na década de 80. O norte-americano vê muitas semelhanças do início da epidemia, mas evita dizer se estamos lidando com uma doença "melhor ou pior" que a Aids.

O vírus da zika está circulando em 38 países e territórios, segundo a OMS. Brasil e Panamá já relataram casos de microcefalia possivelmente associados à zika e a Colômbia investiga alguns casos de síndromes neurológicas com possível ligação com o vírus. Em relação à Guillain-Barré, até hoje 12 países e territórios já relataram incidências da doença e confirmação da zika entre os casos.

No Brasil, a organização acredita que os casos de microcefalia podem superar os 2.500. Até o momento, 907 casos já foram confirmados.

"Zika é diferente. Um importante contraste é que vírus da zika é altamente infeccioso, e pode infectar pessoas de diferentes maneiras, através de picadas de mosquito, transfusão de sangue, transmissão sexual. Mas todas as evidências sugerem que, uma vez infectada pelo vírus da zika, uma pessoa pode estar protegida de uma futura infecção. Isto é algo bastante encorajador e sugere que deve ser muito mais fácil desenvolver uma vacina", contou o cientista.

Outro ponto levado em conta são as várias mutações que o vírus da zika pode sofrer –nem sempre tais mudanças tornam a doença mais severa. Enquanto o remédio não é desenvolvido, Malone destaca a importância da luta contra o mosquito como alternativa importante. 

No Brasil cientistas também investem na busca por remédios

O pesquisador Stevens Rehen, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), depois de fazer um estudo que mostra que o vírus da zika ataca mini-cérebros em laboratório, agora está estudando drogas que possam evitar a ação do vírus.

"Nosso passo agora na pesquisa é entender as consequências no cérebro em desenvolvimento e criar uma plataforma para testar medicamentos, ver se tem algum composto que diminuiria [a ação do vírus]. A gente tem uma hipótese forte, mas ainda precisamos estudar mais para publicar as descobertas", conta. Ele não adianta mais informações, mas garante que novidades devem ser publicadas em breve, com testes em pessoas até o final do ano, o que leva a entender que se trata de um medicamento já autorizado pela Anvisa.

Rehen ainda destaca que os efeitos da zika nos bebês também podem estar relacionados às condições socioeconômicas. "Muitas dessas mulheres não têm nem um pré-natal, e várias coisas podem ter um efeito pré-natal. Por isso estamos esperando novo grupo de resultados, para ter certeza e, então, publicar".