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Funerária troca corpos e família de vítima de covid-19 enterra outra pessoa

Neusa Werneck morreu de covid-19 - Arquivo pessoal
Neusa Werneck morreu de covid-19 Imagem: Arquivo pessoal

Marcelo Casagrande

Colaboração para o UOL, em Araçatuba

24/06/2020 15h35

A família de uma idosa de 75 anos - que morreu por complicações de covid-19 - está revoltada com o erro causado por uma funerária. Horas depois do enterro de Neusa Werneck, os parentes foram avisados de que o corpo no caixão não era o da aposentada, mas sim o de um outro idoso que morreu com a mesma doença.

O caso ocorreu na segunda-feira (22), em Araçatuba (a 521 quilômetros de São Paulo). Segundo a família, o erro foi percebido por um funcionário da funerária Cardassi, que ligou para avisar sobre a confusão. Foi preciso desenterrar o caixão para desfazer a troca.

"É revoltante. É um descaso o que fizeram. Entendo que tenha que ter a proteção por causa do coronavírus, mas eles [funerária] têm equipamentos para isso", desabafou ao UOL, Simone Nery, sobrinha da vítima.

O sofrimento da família havia começado no dia 8 deste mês, quando uma das duas filhas de Neusa foi internada com sintomas de covid-19. Dois dias depois, a aposentada também foi levada ao hospital. Ela precisou ser intubada e levada para a UTI.

No dia 20, o quadro clínico de Neusa piorou. Na noite de domingo (21), a idosa teve a morte confirmada. A filha dela já estava em casa se recuperando da doença, quando recebeu a notícia.

Desabafo nas redes sociais

A dor da perda de uma pessoa da família foi intensificada pela troca dos corpos. A sobrinha de Neusa usou o perfil no Facebook para expressar a revolta com o descaso envolvendo a tia. "Perdemos um ente querido para esse vírus que vem acabando com as famílias. Passar por um sofrimento e depois receber a ligação para voltar ao cemitério para destrocar os corpos. Estou totalmente revoltada com isso...", publicou.

Em poucas horas, mais de 360 pessoas compartilharam o desabafo. "Eu fiz a postagem para servir de alerta. Às vezes, a gente acha que isso só acontece longe, mas não. A gente viveu a realidade na nossa família", disse à reportagem.

Gerência da funerária reconheceu o erro

O protocolo adotado pelo Ministério da Saúde para o manejo de corpos de pacientes diagnosticados com covid-19 prevê que não seja feita autópsia e que os profissionais usem equipamentos de proteção adequados para evitar a contaminação.

A direção da Santa Casa de Araçatuba informou ao UOL que troca de corpos foi de responsabilidade da funerária. "A exemplo de todos os demais falecidos sob suspeita ou positivos de covid-19, o corpo estava revestido em acordo com os protocolos e identificado através de etiqueta devidamente colado ao invólucro", informou a instituição.

"O hospital seguirá cumprindo os protocolos de preparação e liberação de corpos de falecidos por covid-19", complementou a nota.

Já a gerência da funerária reconheceu o erro, mas garantiu que foi transparente com as duas famílias envolvidas no caso. "O funcionário recebeu a informação de que aquele seria o único corpo naquele momento, por isso, de maneira errada, não conferiu a identificação. Menos de uma hora depois, descobrimos a troca e avisamos as famílias", informou ao UOL.

O profissional responsável pela coleta do corpo trabalha na área há 16 anos. Ele foi afastado após a ocorrência para receber acompanhamento psicológico. "Ele está muito abalado. Por causa do momento, as pessoas estão trabalhando com medo de ser contaminadas", comentou a gerência da empresa.