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Operadora suspendeu grampos de Lula no dia em que a PF o levou para depor

Lula foi levado a depor na Polícia Federal no dia 4 de março - Marcelo Machado de Melo/Reuters
Lula foi levado a depor na Polícia Federal no dia 4 de março Imagem: Marcelo Machado de Melo/Reuters

18/03/2016 18h43

A operadora de telefonia Vivo suspendeu "inexplicavelmente" a interceptação de pelo menos seis terminais alvos da Operação Aletheia, inclusive o número usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A interrupção ocorreu por volta de 22h do dia 3 de março. Às 6h de 4 de março, a Polícia Federal chegou à casa de Lula, em São Bernardo do Campo, e o conduziu coercitivamente para depor em uma sala do Aeroporto de Congonhas.

Informado pela PF sobre a suspensão "absolutamente inexplicável" do grampo, na manhã de 4 de março, o juiz Sérgio Moro determinou que a operadora reinstalasse as escutas sob pena de multa pessoal de R$ 100 mil para "o responsável pela operadora" e até prisão por obstrução à Justiça.

A interrupção dos grampos foi descoberta pelo agente da PF William Coser Stoffels. "Tendo em vista o planejamento da deflagração da vigésima quarta fase da Operação Lava Jato para as seis horas da manhã desta sexta-feira, 4 de março de 2016, este subscritor acompanhava os alvos através de monitoramento telefônico para tentar identificar qualquer movimentação fora do normal", informou o agente ao delegado Marcio Anselmo, da força-tarefa da Lava Jato.

Os números da Vivo interceptados eram ligados à LILS Palestras e Eventos, do ex-presidente Lula, ao presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, à diretora da entidade, Clara Ant, ao próprio Instituto Lula, ao advogado Roberto Teixeira, compadre e defensor do petista, e ao investigado Paulo André.

"Poucos minutos antes do horário da deflagração (da Operação Aletheia), foi possível identificar através do extrato em tempo real dos alvos disponibilizados pela operadora no sistema Vigia que os alvos estavam realizando chamadas, mas que os respectivos áudios não estavam sendo encaminhados para o sistema Guardião. A operadora foi imediatamente contatada, mas não identificou nenhum problema técnico, bem como o administrador do sistema Guardião local", disse William Coser Stoffels.

A Polícia Federal comunicou ao juiz federal Sérgio Moro às 10h28 do dia 4, quando Lula já estava depondo em Congonhas. A casa do petista, o sítio em Atibaia, o triplex do Guarujá e outros endereços ligados a ele, como o Instituto Lula, foram alvos de buscas.

"Exmo Sr. Dr. Sergio Fernando Moro Informo a V. Excia. que a operadora Vivo, de maneira absolutamente inexplicável, suspendeu o desvio de todos os áudios interceptados para o sistema guardião, a partir das 22 horas da data de ontem", informou o delegado Márcio Anselmo. "Vale destacar que, em contatos com outros Estados da Federação, a situação nos outros locais encontra-se na absoluta normalidade. Todos os contatos com o atendimento da Vivo deste as 5 horas da manhã tem sido infrutíferos e não retornaram qualquer resposta técnica."

"Falha técnica"

Segundo o delegado, nos dias 3 e 4 existem "centenas de ligações" efetuadas pelos investigados "sem que a operadora procedesse aos desvios". O delegado informa que o sistema Guardião, que faz os monitoramentos da PF, não estava com qualquer problema. "Inclusive áudios de outras operadores estão sendo interceptados normalmente."

A PF pediu a Moro que determinasse "a solução imediata à Operadora Vivo, com fixação de multa de R$ 50 mil por minuto de descumprimento". "Destacando ainda a possibilidade de prisão de todos os envolvidos, pelo descumprimento da ordem e que tal fato será investigado."

A Telefônica Vivo informou que, devido a uma falha técnica, parte dos clientes dos serviços de voz fixa e móvel da empresa em Curitiba teve dificuldades para receber ligações interurbanas, em períodos dos dias 3 e 4. O problema atingiu também a recepção do áudio de linhas interceptadas pela operadora com base em pedido judicial. Assim que o problema foi sanado, as interceptações foram retomadas normalmente.

A companhia reitera que cumpre rigorosamente os pedidos judiciais relacionados aos seus serviços e continua, como sempre esteve, à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.

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