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Amilton admite que mensagem enviada a Dominguetti foi 'uma bravata minha'

O reverendo Amilton Gomes de Paula disse que demonstração de prestígio com presidente era "bravata" - Jefferson Rudy/Agência Senado
O reverendo Amilton Gomes de Paula disse que demonstração de prestígio com presidente era "bravata" Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Matheus de Souza, Daniel Weterman e Amanda Pupo

Brasília e São Paulo

03/08/2021 14h40

O reverendo Amilton Gomes de Paula, citado como um intermediador entre o governo federal e empresas que ofereceram vacinas sem comprovar a entrega dos imunizantes, apresentou hoje uma versão diferente sobre diálogos dele próprio com o policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira.

Dominghetti se apresentou como representante da empresa Davati Medical Supply, tentou vender vacinas contra covid, e foi levado ao Ministério da Saúde pelo pastor. Em depoimento na CPI, o reverendo afirmou que usou uma "bravata" ao demonstrar prestígio com o governo federal nas conversas com o policial. Hoje, Amilton negou proximidade com o presidente Jair Bolsonaro, ou com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Segundo o dicionário Michaelis, "bravata" pode ser definida como uma "presunção sem fundamento acerca de atributos pessoais", ou "ostentação ridícula, exibicionismo". Ou seja, quando o reverendo disse ser próximo do presidente, ele estaria contando vantagem —uma bravata.

Em uma mensagem do reverendo a Dominghetti, enquanto eram negociadas as vacinas ao governo, Amilton teria dito ao vendedor que a primeira-dama teria "entrado no circuito".

Hoje, o pastor afirmou não lembrar o contexto da mensagem, mas declarou que a fala era uma "bravata", para "mostrar algo que não tinha". A mesma justificativa foi dada por ele a uma mensagem a Dominghetti onde dizia que tinha falado "com quem manda".

Durante a primeira bateria de perguntas do relator Renan Calheiros (MDB-AL), o reverendo negou que tenha proximidade com qualquer pessoa do Palácio do Planalto. Apesar de simpatizando com o governo, dizendo ter participado da campanha do chefe do Executivo.

A afirmação, contudo, não foi bem aceita pelos senadores. Além de registros fotográficos com parlamentares governistas, membros da CPI questionam a facilidade com que o reverendo chegou ao Ministério da Saúde para tratar sobre a venda de vacinas. Em sua defesa, o pastor se propôs a disponibilizar seus emails, além seu registro telefônico à CPI, negando que o colegiado encontraria contatos seus com membros do governo.

Durante o depoimento o reverendo relatou três reuniões no Ministério da Saúde: em 22 de fevereiro, 2 de março e 12 de março. Na última, foi recebido pelo ex-secretário-executivo da pasta, Elcio Franco. A justificativa do reverendo para tentar facilitar a compra de vacinas com o Ministério da Saúde foi a tentativa de fornecer vacinas para o Brasil, uma "iniciativa humanitária".

Após as inquisições do senador Humberto Costa (PT-PE) , o presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), interrompeu a sessão por trinta minutos, e sugeriu que o reverendo "repensasse" seu depoimento. "O senhor não é vítima aqui, o senhor participou de um grande enredo. Sua missão é muito maior do que proteger pessoas que brincaram com a vida dos outros", disse, após criticar pastor por afirmar que utilizou uma "bravata" para avançar as negociações de vacinas.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.