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Número de mulheres presas por violência contra homens sobe 169% no Reino Unido

Hayley Cavill e Rachel Fursman

Especial para a BBC Radio 5

06/06/2011 14h42

O número de mulheres presas por violência doméstica na Inglaterra e País de Gales mais do que dobrou nos últimos cinco anos, de acordo com uma investigação feita pela BBC Radio 5, uma emissora doméstica da Grã-Bretanha.

Dados fornecidos pelo Crown Prosecution Service (órgão britânico responsável por levar crimes investigados pela polícia aos tribunais) mostram que quase 4 mil mulheres foram presas por cometer violência doméstica no ano passado, em contraste com 1,5 mil em 2005 - um aumento de 169%.

Para alguns especialistas, os índices são um sinal preocupante de uma cultura cada vez maior de violência por parte da mulher.

Outros dizem que quem mudou foram os homens, hoje mais dispostos a contar que foram agredidos por esposas e namoradas.
A chefe de polícia Carmel Napier, especialista em violência doméstica de uma associação de oficiais da polícia da Grã-Bretanha, disse que os números indicam uma maior tendência por parte da população de denunciar incidentes.

"Sabemos sobre mais casos agora porque há melhores respostas por parte da polícia, agências e serviços voluntários e por causa de uma mudança na forma como a sociedade vê o crime", disse.

Vítimas

Em depoimento à BBC, uma vítima, identificada como Peter, contou ter sido vítima de maus-tratos físicos e emocionais pela esposa durante quase um ano. Quando, finalmente, decidiu chamar a polícia, não teve coragem de apresentar queixa.

Durante meses, ele foi obrigado a dormir na mesma posição, de costas. Se virasse de lado, a esposa lhe dava socos e chutes.

Peter disse que o primeiro incidente de violência o pegou completamente de surpresa. "Não estava esperando o soco no rosto. Não esperava que alguém fosse me bater tão rápido."

"Sabe quando você ama alguém tanto e você acredita que a pessoa simplesmente pode mudar? Eu tinha esperança de que ela ia mudar".

Outra vítima, Kieron, foi esfaqueado no peito pela ex-mulher. Hoje ela cumpre uma pena de quatro anos e meio na prisão. Segundo Kieron, o abuso começou durante a gravidez da mulher.

Na noite em que ele foi esfaqueado, sua esposa voltou para casa após ter visitado amigos e exigiu que ele cozinhasse para ela. Eles começaram a discutir, e ela ameaçou esmurrá-lo. Kieron a empurrou. A mulher foi para a cozinha, pegou uma faca e enfiou-a no peito de Kieron.

"Dava para ver o sangue manchando a camiseta", ele disse à BBC. "Durante o período em que falava pelo telefone com a ambulância, perdi a consciência várias vezes."

"Só me lembro de que o pessoal da ambulância estava lá, me dando oxigênio e medicamentos para dor. Os médicos disseram que minhas chances de sobreviver ou morrer eram de 50%".

Décadas de Atraso

Não está claro por que os índices de mulheres presas por cometer violência doméstica estão aumentando. Há poucas organizações oferecendo suporte a homens que foram vítima de violência feminina na Grã-Bretanha.

Uma entidade britânica que oferece o serviço, a Mankind Initiative, disse que em todo o país existem apenas 70 leitos distribuídos entre 20 abrigos para vítimas homens, em comparação com 7,5 mil leitos para mulheres que são alvo da violência masculina.

Segundo o presidente da Mankind Initiative, Mark Brooks, apesar do número de mulheres condenadas, algumas organizações ainda se recusam a reconhecer que homens também podem ser vítimas de violência doméstica.

"Há vários serviços telefônicos locais e nacionais de ajuda. Há administrações regionais e forças policiais que fazem um grande trabalho, incentivando e apoiando homens quando fazem denúncias, mas são muito poucos", disse Brooks.

Na opinião dele, os serviços que existem estão cerca de três décadas atrás dos que se dedicam a vítimas mulheres.Em matéria de violência doméstica, os homens continuam a ser, no entanto, os principais infratores. O número de condenações subiu de mais de 28 mil em 2005 para mais de 55 mil em 2010.