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Centro do Rio vive 'apoteose' com chegada do Papa

23/07/2013 01h21

Em seu primeiro contato com o público no Brasil, logo após desembarcar no aeroporto internacional do Rio de Janeiro, o papa Francisco levou milhares de fiéis às ruas do centro da capital fluminense ─ para muitos, um sinal inequívoco de aprovação sobre a marca que vem imprimindo na administração da Igreja Católica.

Na avenida Chile, uma das principais da cidade, devotos vindos de diferentes partes do Brasil e do mundo se aglomeraram à espera do pontífice, que partiu de carro da base aérea do Galeão rumo à Catedral Metropolitana.

Ali, o papa trocou de carro, optando por um jipe aberto. Nem mesmo a segurança reforçada, formada por homens da Polícia Federal, foi capaz de afastar os mais fervorosos, ávidos por tocar o papa ou enviar, mesmo que, sem contrapartida, uma saudação a Francisco.

O cenário apoteótico contrastava com a discrição do papa argentino, que veio ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), maior evento católico do mundo direcionado a jovens.

A multidão de fiéis ocupou as duas pistas e os gramados laterais da grande avenida, que conecta o Rio antigo à região boêmia da Lapa.

Havia pouco espaço disponível para tanta gente. Os que chegaram mais cedo se espremiam entre as grades de proteção e o público para garantir o melhor lugar.

O objetivo comum era ver o papa, muitos pela primeira vez. O último pontífice a visitar o Rio de Janeiro foi João Paulo 2º, em 1997.

Simpatia

Desta vez, entretanto, os brasileiros dividiam espaço com fiéis de outros países, especialmente latino-americanos. Por toda a avenida, jovens hasteavam bandeiras de diferentes cores, representando as 150 nações inscritas na jornada.

Um grupo de meninas uruguaias, com idades entre 18 e 20 anos, era um dos mais animados. Com o apoio dos pais, elas vieram sozinhas ao Rio para ver o líder da Igreja Católica e não contiveram a alegria quando o carro com o papa Francisco passou por onde estavam.

"O papa é o representante de Deus na terra. Mas este é diferente. É mais humilde, saiu de um pedestal. Com certeza, ele reaproximará os jovens que estão afastados da Igreja", dizem.

A humildade de Francisco também foi lembrada por Lucineia Pazeto, de 46 anos, e sua filha Nathalia. Elas vieram ao centro junto com o grupo da paróquia onde moram, em Parada de Lucas, na Zona Norte da cidade.

"As atitudes desse novo papa refletem que ele está mais próximo de nós, embora seja uma figura divina. O que vimos aqui hoje foi uma amostra de que o povo está com ele e aprova a sua gestão", afirmaram mãe e filha à BBC Brasil.

Simpático, o pontífice acenou à multidão de fiéis, mas com gestos contidos, característicos de sua personalidade franciscana. Em alguns momentos, recebeu em seus braços recém-nascidos, aos quais fez questão de dar sua benção.

À medida em que cruzava a larga avenida, o papa deixava um rastro de emoção em católicos mais fervorosos. Vários choraram. Outros optaram por manifestar a fé clamando o nome 'Francisco' repetidas vezes e cantando cânticos de louvor em coro, em um misto de vozes que incorporava palavras de distintos vocabulários.

Além do português, o idioma mais ouvido nas ruas do centro do Rio era o espanhol, língua comum a vários participantes da JMJ. Entre as dez nacionalidades com o maior número de inscritos no evento, seis são de língua espanhola (as outras são português, inglês, francês e italiano).

Protestos

Após o rápido percurso na avenida Chile, o papa seguiu até o Theatro Municipal, de onde foi até a base área do aeroporto Santos Dumont.

Ali entrou em um helicóptero para, minutos depois, aterrissar no centro de treinamento do Fluminense, ao lado do Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, onde voltou a se encontrar com lideranças políticas.

Do lado de fora, a Prefeitura fez uma operação para impedir a circulação de veículos nas proximidades o local desde o início da tarde de segunda-feira.

Ao fim da cerimônia de boas-vindas ao papa, que terminou com discursos do pontífice e da presidente Dilma Rousseff, houve confrontos entre manifestantes e a Polícia Militar.

Em meio ao corre-corre, a reportagem da BBC Brasil viu pessoas feridas. Nas redes sociais, houve relatos de que alguns manifestantes teriam sido feridos por armas de fogo, mas a informação foi negada pela Secretaria de Segurança Pública do Rio.