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Brasileiro detido em Londres diz ter sofrido ameaças de policiais

19/08/2013 22h07

O brasileiro David Miranda, que foi detido no domingo no aeroporto de Heathrow, em Londres, disse que sofreu ameaças e "violência psicológica" durante as nove horas em que foi mantido no local.

Em entrevista ao Jornal Nacional na noite dessa segunda-feira, Miranda ─ que já está no Rio de Janeiro ─ disse que os agentes da Scotland Yard a Polícia Metropolitana de Londres, disseram que a ação se baseava em um artigo da Lei Antiterrorismo britânica, de 2000.

No entanto, segundo ele, os policiais não fizeram perguntas relacionadas a respeito de possíveis atividades terroristas.

"Perguntaram sobre os protestos aqui no Brasil, sobre meu relacionamento com Glenn, perguntaram sobre a minha família, meus amigos. Nenhuma pergunta sobre terrorismo. Nenhuma."

Ele afirma ainda que os policiais britânicos o ameaçaram de prisão, caso ele não respondesse determinadas questões. "Não houve nenhuma violência física contra mim, mas você pode ver que foi uma violência psicológica fantástica."

O brasileiro, de 28 anos, vive no Rio de Janeiro com o jornalista Glenn Greenwald, que revelou o esquema de espionagem virtual conduzido secretamente pelos Estados Unidos. As denúncias foram baseadas em informações vazadas por Edward Snowden, ex-agente da Agência de Segurança Nacional Americana (NSA, na sigla em inglês), e publicadas pelo jornal britânico The Guardian em junho.

"Perguntaram qual meu papel nessa história da NSA, dos documentos. Eu expliquei que não tenho envolvimento direto com esses documentos, não trabalho com eles", afirmou Miranda.

Autoridades brasileiras e britânicas elevaram a pressão sobre o governo do Reino Unido para que apresente mais explicações sobre por que David Miranda foi detido.

Um porta-voz da Casa Branca revelou que os Estados Unidos foram avisados com antecedência por Londres sobre a decisão de deter Miranda, mas negou que o governo americano tenha pedido pela ação.

Documentos codificados

Miranda teve equipamentos eletrônicos que carregava confiscados pela polícia, incluindo um laptop, telefone celular, câmera fotográfica, cartões de memória, DVDs e consoles de videogame. Mas afirma não saber se entre os arquivos que transportava, alguns deles codificados, estavam documentos secretos da NSA.

"Eu estava levando alguns arquivos pra Laura e estava trazendo alguns arquivos pro Glenn. Eu não sei o que continha naqueles arquivos, porque eles são jornalistas, eles trabalham em várias histórias.

Em Berlim, onde estava, o brasileiro teria encontrado a cineasta americana Laura Poitras, que vem investigando com Glenn Greenwald as informações vazadas pelo pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, atualmente exilado na Rússia.

Greenwald confirmou ao jornal The New York Times que o companheiro teve a viagem para Berlim paga pelo Guardian, para levar informações e receber documentos a respeito do trabalho que o jornalista e a cineasta fazem sobre os documentos vazados por Snowden.

Ao Jornal Nacional, Greenwald afirmou que tem cópias de todos os documentos que foram confiscados pela polícia britânica.

Em artigo publicado nessa segunda no Guardian, o jornalista chegou a afirmar que o episódio "nos encoraja ainda mais" a "continuar relatando agressivamente o que esses documentos revelam". Mas na entrevista brasileira, ele afirmou que não quer se vingar do governo britânico.

"Eu nunca disse nada que vou punir ninguém ou vou buscar vingança. Vou publicar só para mostrar ao mundo a informação que população do mundo deve saber."

Pressão

Na tarde dessa segunda-feira, o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, conversou sobre o tema por telefone com o chanceler britânico, William Hague. Segundo o Itamaraty, na ligação, feita por volta das 13h, Patriota reiterou a "grave preocupação" do governo brasileiro com o ocorrido, classificado como "injustificável", e repetiu que espera que incidentes como esse não se repitam.

Em uma nota, o Ministério do Exterior da Grã-Bretanha disse que Hague e Patriota "concordaram que representantes do Brasil e do Reino Unido permanecerão em contato sobre o tema".

Em Washington, Josh Earnest, vice-porta-voz da Casa Branca, admitiu que os Estados Unidos foram avisados da ação por Londres antes que Miranda fosse detido, mas afirmou que a medida em si "não foi feita a pedido ou com o envolvimento do governo americano".

Por sua vez, um porta-voz do Ministério do Interior britânico disse que não responderia a perguntas sobre as declarações de Earnest ou a decisão de deter Miranda, ressaltando que o artigo da Lei Antiterrorismo que autorizou que ele fosse detido, conhecida no país como Schedule 7, "forma uma parte essencial do esquema de segurança do Reino Unido ─ é prerrogativa da polícia decidir quando é necessário e sensato aplicá-lo".

O Schedule 7 se aplica em aeroportos, portos e áreas de fronteira, permitindo aos agentes deter e interrogar indivíduos sem a necessidade de um mandado. Durante o interrogatório, o acusado também não precisa ter acesso a um advogado.

A Scotland Yard se limitou a explicar os critérios de aplicação da lei, por meio de comunicados divulgados desde domingo. "(A lei) é usada de maneira apropriada e devida e sempre está submetida ao escrutínio de um revisor independente das leis antiterroristas do Reino Unido", informou a Polícia Metropolitana.