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Como o mundo se posiciona em relação à crise na Ucrânia

05/03/2014 15h44Atualizada em 15/04/2014 15h18

Diplomatas ocidentais vão participar, entre a quarta (5) e a quinta (6), de uma série de reuniões de alto escalão para tentar encontrar uma saída pacífica para a crise na Ucrânia.

As primeiras reuniões acontecem nesta quarta-feira em Paris, onde estão o ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, o secretário de Estado americano, John Kerry, além de ministros europeus.

O encontro havia sido previamente agendado para tratar da situação dos refugiados sírios no Líbano, mas o assunto que provavelmente dominará as conversas deve ser a crise ucraniana.

As reuniões em Paris são, acima de tudo, uma forma de testar a possibilidade de diálogo, diz Bridget Kendall, analista de diplomacia da BBC.

Mas Rússia não parece estar muito disposta ao diálogo. O ministro de Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que os russos não compareceram a uma reunião com os ucranianos em Paris e que, por isso, ele não está "otimista".

"Se não houver progresso, haverá custos e consequências", Hague afirmou.

O debate continuará na quinta-feira, em Bruxelas, na Bélgica, onde haverá uma cúpula extraordinária entre líderes da União Europeia convocada em caráter de urgência para discutir a situação depois do envio de tropas russas à região da Crimeia, no sul da Ucrânia.

No encontro, serão discutidas sanções comerciais e diplomáticas à Rússia, que já afirmou que responderá à altura a qualquer sanção. Em uma entrevista coletiva na terça-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, fez um alerta, dizendo que eventuais medidas podem causar "danos mútuos".

Segundo agências de notícias estatais russas, os parlamentares do país já estudam leis que permitiriam confiscar bens de empresas europeias e americanas se sanções foram impostas a Moscou.

Por isso, a posição de países em relação às movimentações russas varia de acordo com a relação comercial que cada um tem com a Rússia.

União Europeia

O bloco concedeu uma ajuda de 11 bilhões de euros à Ucrânia, enquanto vem, ao mesmo tempo, considerando abertamente sanções a indivíduos e empresas russas, mas teme que isso possa prejudicar suas relações com o país, que é seu terceiro maior parceiro comercial.

Os europeus são os maiores investidores do mercado russo. Além disso, os países do continente dependem de Moscou para se abastecer de óleo e gás.

Em teoria, eles poderiam recorrer à Noruega para compensar uma retaliação russa. No entanto, passar a comprar gás e óleo dos noruegueses sairia mais caro para os europeus.

Alemanha

Tem sido a principal ponte de diálogo com a Rússia, de onde vem um terço de suas importações de óleo e gás.

A chanceler Angela Merkel vem fazendo comentários públicos comedidos sobre a situação, também porque a Alemanha está muito próxima geograficamente da Ucrânia e um conflito armado na região pode lhe custar caro.

França

Vem assumindo um posicionamento mais firme, em contraponto à postura alemã.

O ministro de Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, disse à emissora BFM TV que sanções podem ser divulgadas já nesta quinta-feira se a Rússia não mostrar que está disposta a dialogar.

Reino Unido

Publicamente, o primeiro-ministro David Cameron ameaçou a Rússia com sanções políticas, econômicas e diplomáticas.

No entanto, um documento levado por uma autoridade do governo britânico mostra que essa reação tem limites. Registrado por um fotógrafo freelancer, o papel traz menções diretas ao assunto, dizendo que o Reino Unido pode se unir a outros países na proibição de concessão de vistos e de viagens de autoridades russas, mas que "não deve, por agora, apoiar sanções comerciais ou fechar o centro financeiro de Londres aos russos".

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  • Rafael Mansano/UOL

Estados Unidos

É o país que vem falando mais duro contra a Rússia. Na terça-feira, Kerry afirmou que Moscou vem criando pretextos para uma invasão, e o presidente Barack Obama afirmou que a ocupação da Crimeia coloca a Rússia do lado errado da história.

O país já suspendeu conversas sobre possíveis acordos comerciais com os russos, mas isso tem pouco impacto porque os Estados Unidos não estão nem entre os dez maiores parceiros comerciais dos russos. Por isso, depende dos europeus para fazer uma pressão econômica.

Os Estados Unidos querem instaurar uma missão de observação internacional na Crimeia e, em troca, pedem que as tropas da Rússia voltem às suas bases. O ministro russo Lavrov respondeu que a oferta só pode ser aceita por autoridades da Ucrânia e da Crimeia.

China

O país, segundo maior parceiro comercial da Rússia, mantém-se distante das polêmicas em torno do conflito.

Em comunicado, o presidente Xi Jinping classificou a situação como "complicada e sensível" e disse estar preocupado com o impacto global e regional da crise.

Mas Jinping também afirmou que confia na capacidade russa de mediar uma saída e que apoia qualquer proposta que leve ao fim do conflito.

Brasil

O último comunicado do governo brasileiro sobre o conflito foi feito há duas semanas. Nele, o Itamaraty lamentou a deterioração do quadro político no país e as mortes geradas por isso.

Ao mesmo tempo, a nota dá indícios de que o Brasil não tem a intenção de se envolver na questão ao dizer que a "a crise política na Ucrânia deve ser equacionada pelos próprios ucranianos".

Japão

O país teme que eventuais sanções coloquem em risco a tentativa de melhorar suas relações com a Rússia, segundo autoridades japonesas ouvidas pela agência Reuters.


Desde que o primeiro-ministro Shinzo Abe chegou ao poder, há 15 meses, ele já se encontrou com Putin cinco vezes.

A Rússia planeja ao menos dobrar seu fornecimento de gás e óleo para a Ásia nos próximos 20 anos, e o Japão é hoje forçado a importar grandes quantidades de combustíveis fósseis para compensar a perda de energia de usinas nucleares que foram fechadas depois do desastre de Fukushima, em 2011.

Segundo o ministro de Relações Exteriores Fumiu Kishida, não houve qualquer mudança em suas relações diplomáticas com os russos até agora.

Índia

Apesar dos apelos da Ucrânia para que o país se manifeste em apoio ao novo governo em Kiev, a Índia não assumiu qualquer posicionamento público sobre o conflito.

Apesar de sua relação comercial com os russos não ser tão relevante, o país deve à antiga União Soviética sua vitória sobre o Paquistão no conflito de 1971.