Presidente ucraniano anuncia saída da maioria das tropas russas

KIEV, 10 Set 2014 (AFP) - O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou nesta quarta-feira que a maior parte das tropas russas presentes no leste da Ucrânia tinha deixado a região, cinco dias depois do início de um cessar-fogo para acabar com o conflito no leste do país.

Enquanto isso, a União Europeia adiou novamente sua decisão sobre a adoção de novas sanções contra a Rússia, enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, acusou as potências ocidentais de aproveitarem a crise na Ucrânia para "reviver" a Otan.

Os países europeus não conseguiram chegar a um acordo em torno da adoção de novas sanções decididas na semana passada contra a Rússia, e uma nova reunião dos embaixadores foi convocada para quinta-feira em Bruxelas, segundo fontes oficiais.

De acordo com o site da Presidência ucraniana, Petro Poroshenko declarou que, com base nas últimas informações dos serviços de inteligência ucranianos, "70% das forças russas se retiraram".

O chefe de Estado, que foi convidado a pronunciar um discurso no Congresso americano durante sua visita a Washington em 18 de setembro, considerou que a situação no leste da Ucrânia "mudou radicalmente" desde a entrada em vigor do cessar-fogo entre Kiev e os separatistas pró-russos.

"Isto nos permite confiar na iniciativa de paz", disse Poroshenko, em referência ao "protocolo" de cessar-fogo assinado na sexta-feira entre Kiev e os rebeldes para acabar com cinco meses de um conflito que provocou 2.600 mortes.

"Antes do anúncio do cessar-fogo, a Ucrânia perdia todos os dias dezenas de seus heróis", ressaltou Poroshenko, um dia após uma conversa telefônica com Putin confirmando sua decisão de buscar uma saída pacífica para o conflito.

"A Ucrânia não fez concessões em relação a sua integridade territorial e o leste continuará sendo parte da Ucrânia", garantiu o chefe de Estado em referência ao acordo assinado em Minsk, em Belarus, prevendo um "status especial" às regiões de Donetsk e Lugansk, dois redutos separatistas, para a instauração de um "governo autônomo provisório" e a realização de eleições locais antecipadas.

Poroshenko indicou que apresentará ao Parlamento um projeto de lei garantindo mais autonomia à região leste do país, mas rejeitou qualquer discussão "sobre uma federalização ou qualquer tipo de partição".



Separatistas insistem na independência

Contudo, os separatistas pró-russos exigem a independência de seu território e não aceitam permanecer dentro da Ucrânia, mesmo que com maiores poderes, segundo declarações de um líder separatista à AFP.

"Não podemos seguir fazendo parte da Ucrânia", afirmou Andrei Purguin, vice-primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk.

Por outro lado, a Rússia, acusada de alimentar o conflito, continua a ameaçar Kiev para que não mantenha seu projeto de adesão à Otan.

Além disso, Putin afirmou que "a crise na Ucrânia, que, no fundo, foi provocada e criada por alguns ocidentais, está sendo utilizada atualmente para reviver este bloco militar", em referência à Aliança Atlântica.

A Otan pediu no mês passado a Moscou o fim das "ações militares ilegais" na Ucrânia, depois de afirmar que 1.000 soldados russos combatiam em território ucraniano e que 20.000 estavam posicionados ao longo da fronteira.

A Rússia nega ter enviado tropas à Ucrânia.

Durante uma reunião de cúpula da Otan na semana passada em Newport, País de Gales, os membros dos países da organização se comprometeram a manter uma "presença contínua" no leste europeu, onde a atitude da Rússia preocupa, principalmente através da criação de uma força altamente reativa capaz de ser mobilizada em poucos dias.

Este Plano de Reatividade (Readiness action plan, RAP) tem como objetivo "fortalecer a defesa coletiva", que é a principal missão da Otan criada no início da Guerra Fria, há 65 anos.

Enquanto isso, após vários dias de tensão, a situação parece mais tranquila no leste ucraniano, principalmente nos arredores da estratégica cidade portuária de Mariupol.

O porta-voz das operações militares ucraniana, Oleksi Dimitrashkivski, garantiu que as forças ucranianas estão respeitando o cessar-fogo.

Na terça-feira, os Estados Unidos consideraram que o cessar-fogo na Ucrânia "tem sido cumprido de maneira geral". A porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf, disse a jornalistas que seu país está "preparado para impor" sanções à Rússia, mas que o governo "decidirá os próximos passos de acordo com o a situação em campo nos próximos dias."

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