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Israelenses e palestinos podem conter espiral de violência?

Kevin Connolly

BBC News, Jerusalém

11/10/2015 16h01

Os ânimos estão acirrados entre israelenses e palestinos com a escalada repentina da violência em Jerusalém e na Cisjordânia ocupada por Israel, e muitos passaram a perguntar: será o início de uma nova intifada?

A escalada da violência começou em setembro quando manifestantes palestinos enfrentaram policiais israelenses na região da mesquita de Al-Aqsa, conhecida por judeus como Monte do Templo, área sagrada para muçulmanos e judeus.

Parte da tensão vem do temor de palestinos de que Israel esteja planejando mudar as regras no complexo, onde judeus podem visitar mas não podem rezar. Israel nega que haverá qualquer mudança.

Desde então, está ocorrendo uma onda de ataques por jovens palestinos contra israelenses, alimentando a tensão na parte Oriental de Jerusalém e na Cisjordânia. Israel respondeu com medidas de segurança mais firmes e teme-se que o tamanho desta reação possa gerar mais confrontos.

Em 12 dias, quatro israelenses e 23 palestinos morreram.

A violência levou o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, a citar um novo levante palestino. Os confrontos, no entanto, não atingiram os níveis vistos em intifadas anteriores - pelo menos por enquanto - e não se vê o surgimento de nenhum grande movimento ou líder claros.

Um jornal israelense, o "Yediot Ahronot", declarou categoricamente que um terceiro levante já está em andamento. Outros, no entanto, são mais cautelosos. Um colunista do diário "Haaretz" fez a mesma pergunta, e disse que ainda é cedo para qualquer conclusão.

Está claro, no entanto, que um novo tipo de ataque está surgindo e desafiando Israel: como combater palestinos que têm usado facas ou carros como armas no que parecem ser ataques solitários?

Processo de paz?

Israel tem forças militares poderosas na Cisjordânia, técnicas de monitoramento e vigilância sofisticadas e uma ampla rede de informantes, mas nada disso pode impedir uma pessoa a usar objetos do dia-a-dia para realizar um ataque.

Grupos extremistas se tornam vulneráveis ao armazenar e transportar armas ou transmitir informações entre membros. No entanto, ataques individuais, que não envolvem nenhuma dessas fragilidades, são difíceis de serem contidos por autoridades.

Neste domingo, um sinal de que a situação pode complicar-se ainda mais: forças israelenses disseram que uma palestina detonou explosivos num posto de controle perto do assentamento de Maale Adumim, na Cisjordânia.

Ela foi parada pela polícia enquanto dirigia e gritou 'Allahu Akbar' ("Deus é grande", em árabe) ao acionar os explosivos, disse uma porta-voz da polícia. A mulher está em estado crítico e um policial ficou levemente ferido.

A atual onda de violência tem se firmado, principalmente, em ataques com facas, e explosivos ainda não foram usados em ataques, o que poderia levar os confrontos a um nível ainda mais alarmante.

A tensão também chegou a Gaza e, neste domingo, Israel disse ter atingido instalações que seriam usadas pelo Hamas para fabricação de armas em resposta a dois foguetes disparados do território contra o sul israelense.

Uma mulher grávida e sua filha em uma casa próxima morreram, disseram autoridades palestinas.

No lado palestino, há um sentimento persistente de ressentimento com a ocupação de Israel, o que é intensifcado não apenas pelas circunstâncias ao redor da área de Al-Aqsa mas pelo pensamento recorrente de que a criação de um Estado palestino saiu da agenda internacional.

É difícil de se lembrar quando tão pouco foi feito diplomaticamente para se achar uma solução para este conflito. Em parte, a questão foi ofuscada pelo conflito na Síria e as negociações nucleares com o Irã. Mas a verdade é que o chamado Processo de Paz parece estar perto do fim.

Poucos acreditam que o líder palestino, Mahmoud Abbas, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, farão as concessões necessárias para se chegar a um acordo.

Imprevisível

A Autoridade Palestina ainda opera um acordo de cooperação em segurança com Israel, mas isto poderá ficar em dúvida se o ambiente político continuar a piorar.

Abandonar este acordo, como ele já ameaçou fazer, seria um grande passo para a Abbas. Mas, por outro lado, ele não pode parecer estar tão distante de seu povo nesta questão.

Seria difícil para ele explicar os motivos pelos quais suas autoridades de segurança estão trabalhando de perto com as mesmas forças israelenses que enfrentam manifestantes palestinos na Cisjordânia.

A verdade é que ninguém pode prever o que vai acontecer. A violência pode diminuir nos próximos dias - como também pode aumentar.

O real motivo para tamanha apreensão em ambos os lados pode ser a sensação de que, como é habitual no Oriente Médio, autoridades políticas e de segurança não parecem estar no controle do que acontece mas, sim, sendo levadas pelos eventos das ruas.