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'Comi meus amigos para sobreviver', relembra vítima de acidente aéreo

09/03/2016 11h16

Em entrevista à BBC, uruguaio Roberto Canessa relata episódio que acabou inspirando sua carreira médica e que agora detalha em livro

O uruguaio Roberto Canessa era um dos 45 passageiros do avião que caiu na Cordilheira dos Andes, no Chile, em 1972.

Ao todo, 12 pessoas morreram na queda, seis nos dias seguintes - quando uma avalanche atingiu os destroços do avião - e 11 pela escassez de alimentos e pelas condições críticas.

Os 16 sobreviventes, integrantes de um time de rúgbi, tiveram que se alimentar dos corpos para ter qualquer chance de aguentar até o resgate, que demorou dois meses.

Em entrevista ao programa Victoria Derbyshire, da BBC, Canessa, que hoje é um bem-sucedido cardiologista, conta o drama que motivou a decisão.

Ele está lançando um livro sobre o episódio, ainda sem edição no Brasil, chamado "I Had to Survive: How a Plane Crash in the Andes Inspired My Calling to Save Lives" ("Eu tinha de sobreviver: como um acidente de avião nos Andes inspirou minha vocação para salvar vidas", em tradução livre).

O episódio também inspirou o filme Vivos (1993), em que Canessa é interpretado pelo ator Josh Hamilton.

O resgate demorou dois meses. Canessa, que tinha 19 anos à época, caminhou com um colega por 11 dias até encontrar pastores no pé da cordilheira.

O avião caiu quando seguia de Montevidéu para Santiago, em outubro de 1972. O piloto teve que fazer um pouso de emergência em um vale após uma forte turbulência em meio a uma tempestade.

No início, eles sobreviveram com barras de chocolate, doces e pequenos lanches que encontraram nas bagagens. Derreteram gelo para água e usaram bancos do avião como camas.

Eles conseguiram fazer um rádio funcionar e ouviram as notícias sobre o fim das buscas ao avião, cerca de uma semana após a queda.

Quando a comida acabou, os sobreviventes tiveram que tomar a decisão radical.

"Alguém disse: acho que estou ficando louco, porque estou pensando em comer os corpos. O capitão do time disse: 'Você está louco, não nos tornaremos canibais, com certeza não iremos por esse caminho'", conta Canessa.

Ele também diz ter relutado no começo, mas depois mudou de ideia.

"Pensei que se fosse uma das vítimas teria orgulho de meu corpo ser usado por meus colegas como um projeto de vida", afirma.

Segundo ele, há quem pense que o recurso tenha sido uma "fórmula mágica" da sobrevivência, o que ele nega.

"Sobrevivemos porque éramos um time, porque estávamos juntos, porque andamos 11 dias (até encontrar ajuda)."