Um caso de amor que comoveu o mundo: o príncipe africano que abdicou de trono para se casar com mulher branca
Na década de 40, Seretse Khama já sabia o que o futuro lhe aguardava. Ele se tornaria um rei da tribo Bamangwato, no então protetorado britânico de Bechuanalândia, atual Botsuana, no sul da África.
Mas antes de assumir o trono, ele foi estudar Direito na Universidade de Oxford, no Reino Unido -- em uma viagem que mudaria sua vida totalmente.
Na faculdade, ele ficou amigo da britânica Muriel Williams, que, em 1947, o apresentou para sua irmã, Ruth.
Ruth era branca, de classe média e trabalhava para uma empresa de seguros.
Seretse deveria voltar para casa assim que se formasse, se casar com alguém da sua etnia e ser coroado líder. Mas ele se apaixonou por Ruth.
"Era surpreendente ver como eles tinham tanto em comum, mesmo vindo de contextos tão diferentes", disse Muriel, a irmã de Ruth, ao programa da BBC Witness (Testemunha).
"Eles se conectaram desde o primeiro momento. É difícil descrever, mas claramente havia uma atração ali."
Na época, a questão racial era bastante complicada em Londres, segundo lembra Muriel. "Os brancos e os negros não saíam juntos no Reino Unidos. Muito menos uma mulher branca e um homem negro."
Noiva branca
Como o pai de Seretse havia morrido, ele havia sido criado por seu tio, Tshekedi Khama, que desaprovava seu envolvimento com a britânia. Rechaçava a ideia de um chefe tribal ter uma noiva branca.
"Mas Ruth era muito corajosa e Seretse também", contou Muriel. E o casal seguiu adiante com seus planos de se casar.
Vetados de se casarem no religioso, Seretse conseguiu obter uma licença de casamento civil e um contrato de núpcias com Ruth em 1948 - ele tinha 27 anos e ela, 25.
A união desatou uma polêmica internacional.
Houve prostestos no país vizinho, a África do Sul, onde os casamentos inter-raciais eram proibidos pelo apartheid.
Winston Churchill, premiê britânico durante a Segunda Guerra e de 1951 a 1955, disse, apesar de desaprovar a união, que os dois formavam um casal muito corajoso.
Para saber ser Seretse seria um rei adequado para os bamangwato, o governo britânico enviou uma representação especial a Bechuanalândia. Mas esta não encontrou pontos que indicassem o contrário.
Mesmo assim, o Reino Unido manteve Seretse exilado por seis anos e ele só pôde retornar à sua terra natal, com sua esposa, em 1956, depois de renunciar a seus direitos tribais.
Novo líder
No entanto, ele encontrou um caminho para liderar seus compatriotas: a política.
Seretse percorreu todo o país e fundou o Partido Democrático de Bechuanalândia. E em 1965 ele foi eleito primeiro-ministro.
No ano seguinte, quando o protetorado teve sua independência do Reino Unido e passou a se chamar Botsuana, ele se tornou o primeiro presidente do país e Ruth, a primeira-dama.
O líder foi reeleito como mandatário até 1979 - e morreu em 1980, quando ainda estava no cargo.
Muriel conta que o compromisso dois dois era muito sólido. Ela lembra de uma ocasião, quando Seretse estava percorrendo seu país durante a fundação de seu partido, em que o carro em que viajavam quebrou. E foi Ruth quem conseguiu consertá-lo. "Definitivamente me casei com a mulher certa", disse o líder africano, de acordo com sua cunhada.
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