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Violência entre israelenses e palestinos gera prejuízo na economia local

03/11/2015 06h06

Elías L. Benarroch.

Jerusalém, 3 nov (EFE).- A recente onda de violência entre israelenses e palestinos deixou, além de vítimas, danos econômicos incalculáveis e que já afetam os bolsos de milhares de trabalhadores e empresários locais.

Um mês após o início dos ataques, o tamanho do prejuízo em nível macroeconômico ainda não foi registrado nas estatísticas oficiais, mas todos os empresários consultados pela Agência Efe afirmam ser enorme devido à relação entre o consumo e a dependência dos mercados.

"Quando as pessoas têm medo de sair, o consumo cai e arrasta tudo para baixo", disse Efraim Aviv, dono de um restaurante popular em Jerusalém que faturou 50% menos em outubro.

O consumo em Israel caiu em todos os níveis por causa do medo de sair de casa em meio à onda de ataques de palestinos, o que afeta o turismo interno, a vida noturna, a restauração, estacionamentos, supermercados, entre outros.

"Tudo isso é um consumo perdido, as pessoas não dizem: 'já terminou, agora vamos gastar o que economizamos'", argumenta Aviv sobre os danos pelos quais os empresários não serão ressarcidos e que uma companhia de crédito calculou entre 500 milhões e um bilhão de shekels (entre R$ 498 milhões e R$ 997 milhões).

"O público ainda teme sair, mas um pouco menos que antes. Estamos vendo um crescimento nas vendas dia a dia" após quatro semanas de violência, analisou Arnon Toren, diretor de uma grande rede de shoppings.

Os mais afetados, em grande parte dos casos, são os setores com muitos operários palestinos, que por temerem ser alvo de vinganças não comparecem ao trabalho, o que acarreta a paralisação da produtividade.

Pablo Krell, gerente de uma imobiliária em Jerusalém, explicou à Efe que o setor inteiro está afetado, desde a fase de construção - com projetos quase parados -, até a comercialização.

"O número de reuniões com possíveis clientes interessados em propriedades caiu drasticamente e, em alguns bairros com população árabe, os únicos que entram em contato são jornalistas", comentou.

Segundo Krell, curiosamente, as poucas ligações recebidas eram de clientes "qualitativos", judeus de outros países que, em momentos de emergência, "traduzem seu sionismo em investimentos em Israel".

Até setembro, mais de 150 mil palestinos da Cisjordânia trabalhavam em Israel com ou sem permissão, principalmente em obras, hotelaria e restauração. Os controles e o medo reduziram o número para poucos milhares, segundo dados da Federação de Construtores.

A ausência de mão de obra é notada sobretudo na parte oeste de Jerusalém, área que muitos palestinos temem se aproximar agora.

"Se tudo estiver tranquilo, irei trabalhar na próxima semana", confirmou Issa, pai de cinco filhos que mantém a família limpando casas nos bairros judeus, onde ganha 55 shekels (R$ 54) a hora, 80% a mais que no leste da cidade.

Após três semanas de ausência, o receio de perder clientes e a necessidade de manter a família não o deixam outra opção a não ser voltar a trabalhar, embora sua decisão também se deva à relativa calma em Jerusalém há uma semana.

Muito disseminada na primeira quinzena de outubro, a violência parece ter sido transferida aos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Ao todo, morreram 61 palestinos (a metade agressores ou suspeitos), dez israelenses, um eritreu e um agressor árabe-israelense.

Um dos danos econômicos diretos imediatos são as indenizações às vítimas, assim como as despesas médicas geradas pelo atendimento aos mais de 1,5 mil feridos no lado palestino e aos 130 na parte israelense.

Entre outras despesas de Israel está a mobilização de milhares de policiais e do exército em Jerusalém, além de possíveis consequências para o turismo.

"As coisas ainda não mudaram porque estamos em alta temporada e as reservas já estavam feitas ou os grupos já estavam aqui", declarou Amir Halevy, diretor-geral do Ministério do Turismo israelense.

Ainda com a previsão de 3,5 milhões de turistas anuais, Halevy informou que "houve uma queda de 10%", mas que "se a situação continuar, dentro de algumas semanas será possível notar uma redução".