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Nova biografia revisa o papel de Hitler no Terceiro Reich

Adolf Hitler (à esquerda), em março de 1938 - Arquivo Federal Alemão
Adolf Hitler (à esquerda), em março de 1938 Imagem: Arquivo Federal Alemão

Rodrigo Zuleta

Em Berlim (Alemanha)

02/12/2015 14h19

Uma nova biografia de Hitler revisa o papel do ditador na ascensão do partido nazista ao poder na Alemanha e nas decisões tomadas durante os 12 anos que durou o Terceiro Reich, que levaram à Segunda Guerra Mundial e ao Holocausto.

"Hitler. Biografia" é o lacônico título do livro de mais de mil páginas do historiador Peter Longerich, reconhecido por suas pesquisas sobre o Holocausto.

As duas biografias mais conhecidas do ditador até agora são a de Joachim Fest, publicada em 1973, e a do britânico Ian Kershaw, lançada em 1998.

Ambas partem mais ou menos da mesma pergunta, "como a ascensão de Hitler foi possível?", mas oferecem enfoques diferentes para respondê-la.

Enquanto Fest se concentrou na psicologia de Hitler, a quem vê como um sedutor das massas, Kershaw considera que, para entender o nazismo, não se deve olhar tanto para o ditador, mas para os que o seguiram.

Apontando diretamente contra o mito de um povo inocente seduzido por um demagogo, Kershaw interpreta Hitler, antes de tudo, como um produto da sociedade alemã de seu tempo e relega as reflexões sobre sua personalidade ao segundo plano.

No mesmo sentido, o historiador alemão Hans Mommsen, morto recentemente, sustentava a tese de que Hitler tinha sido um "ditador fraco", e que a condução do seu governo foi dirigida por seus subordinados e pela sociedade alemã.

Já Longerich apostou em um meio termo entre o enfoque de Fest, cuja biografia considera já superada, e o de Kershaw, contra quem marca distâncias claramente.

O argumento central contra Kershaw é que, apesar de boa parte da população alemã ter seguido Hitler, também houve outra parte que esteve desde o começo contra ele e que tentou, sem sucesso, deter sua ascensão.

De fato, lembrou Longerich, a sociedade alemã na República de Weimar estava profundamente dividida, e as diferenças entre os diferentes grupos não ficaram para trás com a chegada dos nazistas ao poder em 1933.

A chave, para este historiador, não está somente na capacidade de sedução de Hitler, como tendia a crer Fest, nem na projeção que os alemães fizeram de seus próprios desejos, como apontava Kershaw, mas no desenvolvimento de uma técnica de dominação que empregou todos os recursos de uma ditadura.

Isso implica se voltar sobre a personalidade de Hitler --no final do livro, Longerich agradece o apoio de um grupo de psicanalistas--, mas sem perder de vista as forças sociais que contribuíram para sua trajetória.

A ascensão de Hitler começa depois da Primeira Guerra Mundial, quando ele assume uma função no setor de propaganda em uma equipe encarregada de prevenir que veteranos de guerra dessem um giro à esquerda.

Esse caminho o leva ao partido nazista, ao que se integra e dentro do qual ascende até assumir a chefia e se transformar, mais tarde, ajudado pelas elites conservadoras, em chanceler da Alemanha, onde estabeleceu uma ditadura com consequências nefastas.

Longerich admite, no capítulo final do livro, que a desolação moral e física da Alemanha em 1945 não tinha sido o resultado da ditadura de um só homem, mas acrescentou que, para isso acontecer, foi preciso ter uma figura política que usou todas as condições e as canalizou na direção que a convinha.

Contra a tese do "ditador frágil" de Mommsen, Longerich ressaltou que Hitler organizou o Estado e o partido de uma maneira que o permitiu saltar instâncias formais para influenciar diretamente em todas as decisões-chave.

Hitler, sustentou Longerich, teve a ver diretamente com os passos essenciais que levaram ao Holocausto, apesar de no início da década de 1930 ter mantido uma certa cautela tática, assim como com a estratégia da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.