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Ter um vaso sanitário vira requisito para se candidatar nas eleições da Índia

18.nov.2014 - Mulheres carregam vasos sanitários em suas cabeças na abertura do Festival Internacional do Banheiro, em Nova Délhi - Roberto Schimidt/ AFP
18.nov.2014 - Mulheres carregam vasos sanitários em suas cabeças na abertura do Festival Internacional do Banheiro, em Nova Délhi Imagem: Roberto Schimidt/ AFP

Em Nova Délhi

18/12/2015 10h01

A Índia é o país do mundo onde mais pessoas são obrigadas a fazer suas necessidades na rua e, para solucionar esse grave problema, várias regiões começaram a exigir que os candidatos às eleições tenham um vaso sanitário em casa.

Tudo para cumprir a "Missão Limpa Índia", um plano do primeiro-ministro do país, Narendra Modi, que pretende que em 2019, no 125º aniversário do nascimento de Mahatma Gandhi, se torne realidade o sonho do pai da pátria de que todos no país tenham saneamento básico.

Essa solução peculiar foi iniciada primeiro no estado de Gurajat, no leste do país, governado por Modi durante 13 anos antes de assumir o posto de primeiro-ministro. Pouco a pouco, a medida foi sendo copiada nas outras regiões.

"Quem se candidata quer ser representante do povo e tem que dar exemplo para estimular as pessoas para que não defequem ao ar livre", afirmou à Agência Efe, convencido da efetividade do projeto, o porta-voz do governo de Maharashtra, Ravi Kiran Deshmukh.

"Posso entender que alguém não pode construir um Taj Mahal para sua esposa. Mas se verdadeiramente cuida dela e a ama, pode pelo menos proporcionar um vaso sanitário", declarou um ministro do governo de Maharashtra, Jayant Patil, em entrevista ao jornal indiano "DNA".

Maharashtra, cuja capital é a populosa Mumbai, é o último estado a estabelecer esse peculiar requisito. Já são cinco as regiões, a maioria governada pelo partido nacionalista hindu BJP, de Modi, que seguiram os passos de Gurajat. Eles são fiéis ao lema de Gandhi, que "os banheiros são mais importantes que a independência do país".

Quem quiser ocupar cargos locais como o de prefeito tem que dar o exemplo. Inclusive é exigido um certificado confirmado por escrito que cada candidato tem um vaso sanitário.

Paradoxalmente, um projeto que pretende que todos, não só os mais poderosos, instalem o equipamento em casa, pune exatamente os mais pobres, em quem a "Missão Limpa Índia" está focada.

"Os pobres são quem têm mais dificuldade para cumprir com essa exigência", alertou em entrevista à Efe a ativista Shahina Perveen, da ONG "The Global Hunger Project".

"Segundo o último censo, 65% da população carece de espaço para dispor de um sanitário. Na prática, esse tipo de projeto bloqueia a participação de mulheres, dos mais pobres, das castas e das tribos economicamente mais frágeis de participar de governos locais", ressaltou Perveen.

"O exemplo se transforma assim em uma desqualificação dos marginalizados e mais frágeis socialmente. Ao invés de normas desqualificantes, o governo deve proporcionar serviços básicos às pessoas", opinou a ativista.

No entanto, os tribunais regionais, incluindo o Supremo da Índia, aprovaram esse tipo de norma eleitoral.

Enquanto as autoridades esperam que o exemplo se estenda por meio dos candidatos eleitorais, a cada dia cerca de 65 milhões de quilos de excrementos humanos acabam nas ruas indianas, segundo a Unicef. Isso porque mais da metade do país, de 1,25 bilhão de habitantes, não tem vaso sanitário em casa.

A "Missão Limpa Índia" conseguiu que dois milhões de banheiros, entre eles alguns públicos, fossem construídos no país, longe ainda do objetivo do programa de um vaso sanitário para todos.