Santos assume presidência da Colômbia e deverá reatar relações com Venezuela
Depois de uma escalada na tensão entre Venezuela e Colômbia nos últimos dias da presidência de Álvaro Uribe, caberá a seu sucessor Juan Manuel Santos reatar as relações com o país vizinho, em uma iniciativa que interessa aos dois países.
Santos (esq.) deverá negociar a normalização das relações com a Venezuela de Hugo Chávez
Segundo analistas ouvidos pelo UOL Notícias, é possível esperar que Santos negocie com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, a retomada dos vínculos entre Caracas e Bogotá, já que a manutenção da disputa prejudica a economia regional.
“Uribe se encarregou de fazer o trabalho sujo, que era denunciar a presença das Farc na Venezuela, para que Santos entrasse já como o bombeiro que vai apagar o fogo e negociar”, afirma o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, diretor do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade de Juiz de Fora.
Colômbia
No dia 22 de julho, o diplomata colombiano, Luis Alfonso Hoyos, levou à Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, uma série de mapas e fotos que comprovariam a presença de guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) refugiados em território venezuelano. Em resposta, Chávez anunciou imediato rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
No mesmo dia, Angelino Garzón, vice-presidente eleito, já adiantou que Santos buscaria “todos os mecanismos diplomáticos para melhorar e fortalecer as relações com todos os países da região, incluindo a Venezuela”.
“Diplomacia do microfone”
Para Marcelo Santos, doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Campinas (Unicamp), a continuidade da rixa entre Caracas e Bogotá não traz benefício a nenhuma das partes.
“A briga envolvendo Chávez e Uribe criou um problema gravíssimo entre os dois países, que mantém relações históricas do ponto de vista social, cultura e, sobretudo, comercial”, afirma. “Nesse ambiente, vemos uma ‘diplomacia dos microfones’, uma disputa midiática que não tem feito outra coisa além de trazer prejuízo aos dois países”.
A respeito das raízes históricas da tensão atual, Marcelo Santos explica que o embate é uma manifestação externa de programa políticos internos distintos de Chávez e Uribe, ambos com forte personalidade centralizadora.
“Nos últimos oito anos o que se viu na região foi uma diplomacia presidencialista, de dois líderes com projetos políticos, ideológicos, distintos, inclusive no entendimento sobre o conflito interno colombiano e sobre o papel que caberia aos EUA na região. Nesse sentido, os canais diplomáticos entre os dois países foram esvaziados”, analisa.
Essa diferença de projeto tem especial impacto quando diz respeito às Farc. Uribe – assim como os Estados Unidos – considera o grupo como terrorista, e acredita na ofensiva militar como método de resposta. Chávez, ao contrário, vê o grupo como insurgentes, embora faça críticas ao tráfico de drogas, e diz que cabe ao governo colombiano combater seus problemas internos.
Motivações de Uribe
Mas após oito anos de governo, por que Uribe lançaria um ataque diplomático em suas últimas semanas? Marcelo Santos concorda que o presidente pode estar “limpando o terreno” para seu sucessor e aliado, mas aponta outras hipóteses.
“Uma outra intenção seria chamar a atenção dos EUA para que os norte-americanos mantenham a ajuda econômica que eles destinam ao país”, lembra o analista, indicando que se trata de fonte de renda importante para a Colômbia.
“E uma terceira interpretação importante é ver nessa atitude um recado de Uribe para Santos, de que essa política deve continuar, como política de Estado, não meramente como opção de um governo, ou seja, indicando qual relação a Colômbia tem com o conflito e como devem enquadrar os vizinhos nessa luta”, conclui.
Posse
Santos toma posse neste sábado, em uma cerimônia que contará com cerca de 20 chefes de Estado. A Venezuela anunciou que mandaria seu chanceler, Nicolas Maduro, para o evento, sinalizando distensão.
As Forças Armadas da Colômbia prometeram aumentar as medidas de segurança para evitar ataques guerrilheiros e proteger o presidente eleito. Entre as medidas estão o patrulhamento aéreo, postos de controle nas vias de acesso à capital colombiana e restrições ao porte de armas.