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Egito condena sete homens à prisão perpétua por ataques sexuais e assédio

Yasmine el Baramawy, 30, foi estuprada por uma multidão na praça Tahrir, no Egito - Arquivo Pessoal
Yasmine el Baramawy, 30, foi estuprada por uma multidão na praça Tahrir, no Egito Imagem: Arquivo Pessoal

No Cairo

16/07/2014 12h53

Um tribunal egípcio condenou sete homens à prisão perpétua nesta quarta-feira (16), em dois casos separados de ataques sexuais e assédio a mulheres durante manifestações e celebrações na praça Tahrir, no Cairo.

As penas foram as maiores desde que o ditador Abdel Fattah al Sisi prometeu em junho reprimir os ataques sexuais e o governo criminalizou o assédio sexual, em meio a críticas generalizadas de ativistas e advogados à ação das autoridades para conter os abusos.

Cinco homens foram condenados à prisão perpétua por atacar e assediar mulheres durante os festejos da posse de Sisi em junho.

Um outro réu, de 16 anos, pegou 20 anos de prisão, e um de 19 anos, duas penas de 20 anos, embora não tenha ficado claro de imediato se ele cumpriria a dupla sentença ao mesmo tempo. Todos os sete foram condenados por assédio sexual com base em uma nova lei e por tentativa de estupro, tentativa de assassinato e tortura.

Um dos cinco homens, bem como outros dois também condenados à prisão perpétua, também foram sentenciados em um caso separado, por atacarem uma mulher que participava da celebração do aniversário da derrubada do presidente Hosni Mubarak em 2011.

Uma das vítimas chorou na sala do tribunal depois de ouvir os veredictos.

Os réus nos dois casos, com idades entre 16 e 49 anos, permaneceram numa cela na corte e gritaram "injustiça" depois da leitura dos veredictos. Seus parentes atacaram jornalistas.

Ação do governo

Sisi ordenou ao ministro do Interior que combata o assédio sexual após a prisão de sete homens por atacarem mulheres perto de praça Tahrir, no Cairo, durante suas celebrações de sua posse.

Os ataques aconteceram quando milhares de pessoas se reuniam nas ruas, levantando novas preocupações sobre o compromisso do Egito em combater a violência sexual.

Um vídeo postado no YouTube mostra uma mulher nua, com ferimentos no quadril, sendo arrastada em meio a uma multidão em direção a uma ambulância. O episódio causou revolta e levou mais vítimas a denunciar os abusos.

Sisi visitou uma das vítimas no hospital e a presenteou com um buquê de flores.

A agressão sexual foi intensa em manifestações durante e após o levante de 2011, que derrubou o ditador Hosni Mubarak, e tem sido frequente em grandes eventos no Egito.

Sisi tem frequentemente falado sobre a importância das mulheres na sociedade e pediu que um policial que resgatou uma vítima de assédio sexual seja homenageado.

Mas alguns liberais inicialmente suspeitaram das intenções de Sisi, especialmente depois de relatos de que ele defendia uma prática do Exército - o que foi negado por um tribunal militar - de realizar "testes de virgindade" em manifestantes do sexo feminino que se queixavam de abusos.

Muitos dizem que a sociedade egípcia precisa ser mais severa contra o assédio sexual. Uma apresentadora de televisão em um canal privado chegou a rir quando uma colega mencionou o assédio na praça Tahrir. "As pessoas estavam simplesmente 'felizes'", disse ela.

O assédio sexual, as altas taxas de mutilação genital feminina e uma onda de violência após os levantes da Primavera Árabe fizeram do Egito o pior país do mundo árabe para as mulheres, segundo constatou uma pesquisa da Fundação Thomson Reuters no ano passado.