CPI da Covid

As revelações que complicam o governo

Por Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral

Panela de pressão

Foram 12 depoimentos em 5 semanas de audiências. Nesse período, a CPI da Covid obteve informações relevantes e que podem, no relatório final, fundamentar acusações contra o governo federal.
Edilson Rodrigues/Agência Senado

Adeus antes de ser oficializada

A infectologista Luana Araújo foi cortada do comando da Secretaria de Enfrentamento à covid-19 dez dias depois de ter aceitado convite feito pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. À CPI, em 2 de junho, ela disse não ter sido informada sobre o motivo da reprovação de seu nome e deu a entender que o desfecho ocorreu por questões políticas.
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Posicionamento contrário à cloroquina para a covid-19

A médica tem posicionamento contrário ao que Bolsonaro defende. Com base científica, ela prega respeito às medidas de distanciamento e não concorda com o uso de medicamentos sem eficácia no tratamento da covid, como cloroquina e hidroxicloroquina.
Jefferson Rudy/Jefferson Rudy/Agência Senado

Governo decidiu não intervir no AM

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello declarou em 20 de maio que o governo optou por não decretar intervenção federal no Amazonas durante o agravamento da crise sanitária no estado."[O assunto] foi levado à reunião de ministros com o presidente. E o governador, presente, se explicou, apresentou suas observações. E foi decidido pela não intervenção", disse.
SANDRO PEREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO

'Capitã cloroquina' contradiz o ex-chefe

O depoimento da secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro acabou por contradizer versão de Pazuello sobre a crise de Manaus. Segundo ela, o governo soube da falta de oxigênio na cidade por meio de um e-mail da empresa White Martins, em 8 de janeiro. Pazuello disse à CPI que foi informado do problema na noite do dia 10.
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Hackeou ou não hackeou?

O relato de Mayra também contraria a fala do ex-ministro em relação ao aplicativo TrateCov. Segundo ela, o app não foi "hackeado", conforme disse Pazuello. Houve, na verdade, uma "extração indevida de dados" depois que um jornalista obteve acesso à plataforma (que estava disponível ao público).
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Mais contradição

Quem também complicou a situação de Pazuello frente à CPI foi o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. Em seu depoimento, o dirigente da instituição culpou Jair Bolsonaro pelo atraso na compra da CoronaVac. Segundo ele, o presidente atrapalhou as negociações.
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Ofertas ignoradas

Covas relatou que o Butantan fez a primeira oferta para compra de vacinas (60 milhões de doses) em julho de 2020, mas não houve resposta do governo federal. A segunda, de 100 milhões de doses, foi enviada ao Ministério da Saúde em outubro. Nesse período, Bolsonaro contestava publicamente a CoronaVac e disse que não compraria o imunizante.
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Senta lá, Pfizer

A farmacêutica também diz que teve 3 ofertas ignoradas pelo governo em agosto de 2020. Pazuello nega que tenha sido assim. Os acordos previam até 70 milhões de doses de vacina, com entrega de lotes a partir de dezembro. Mais ofertas foram feitas em novembro e fevereiro. A oferta que vingou foi só a de março deste ano.
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Cartas ao vento

Sem resposta, a Pfizer enviou uma carta a Bolsonaro e ao governo para cobrar um posicionamento. Não houve retorno por dois meses, segundo Murillo e o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também revelou ter mandado alerta ao presidente para que revisse seu posicionamento sobre a pandemia ainda em março de 2020.
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Bula da hidroxicloroquina

Segundo revelaram Mandetta e o diretor da Anvisa, Antonio Barra Torres, houve uma reunião no Planalto em que foi sugerida a mudança da bula da hidroxicloroquina para incluir o tratamento da covid. O medicamento não é eficaz contra a doença. Barra Torres disse que a médica Nise Yamaguchi pareceu na reunião estar "mobilizada" com a possibilidade, o que ela nega.
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Jefferson Rudy/Agência Senado

Médica pró-cloroquina rebate falas e nega participação em 'gabinete paralelo'

Nise Yamaguchi negou ainda participar de "gabinete paralelo" de assessoramento ao governo federal durante a pandemia. Para o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), porém, a existência do grupo está demonstrada pelo "conjunto dos fatos".
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Itamaraty atuou por hidroxicloroquina

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo confirmou que o Itamaraty atuou pelo fornecimento de hidroxicloroquina. Disse ainda que Bolsonaro agiu pessoalmente a fim de viabilizar a importação do remédio.
Jefferson Rudy/Agência Senado

Falta de autonomia

O ex-ministro Nelson Teich indicou que não tinha autonomia suficiente à frente da Saúde e que este foi um dos motivos que o levaram a pedir demissão, além das divergências com Bolsonaro quanto ao uso da cloroquina.
Jefferson Rudy/Agência Senado
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Edilson Rodrigues/Agência Senado

Carlos Bolsonaro presente em reuniões

CEO da Pfizer, Carlos Murillo revelou que o filho "02" do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), participou de reunião com representantes da farmacêutica e membros do governo no Planalto. A declaração deu munição à oposição, que ameaça convocar Carlos a prestar depoimento à CPI.
Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de Maio de 2021.
Colaborou Douglas Porto; edição: Vanessa Alves Baptista

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