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Pazuello: Em reunião com Bolsonaro, governo optou por não intervir no AM

Rayanne Albuquerque, Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

20/05/2021 10h43Atualizada em 20/05/2021 21h02

Em reunião com a presença do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de ministros e do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), o governo federal optou por não intervir no estado durante a crise aguda vivida pelos amazonenses no início deste ano, informou hoje o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na CPI da Covid.

Em janeiro, quando o Amazonas vivia o pico da crise pela pandemia do novo coronavírus, inclusive com a falta de oxigênio hospitalar para pacientes internados, o senador Eduardo Braga, eleito pelo Amazonas e líder do MDB no Senado, pediu ao presidente Bolsonaro que fosse feita uma intervenção federal no estado. O pedido foi formalizado por ofício, afirma.

Hoje, ao ser questionado por Braga na CPI sobre por qual motivo a intervenção não foi feita, Pazuello disse que a decisão não era dele como ministro e, após reunião com Bolsonaro, outros colegas de Esplanada e o governador, o governo federal optou pela não-intervenção.

"Essa decisão não era minha. Ela foi levada ao conselho de ministros. O governador se apresentou ao conselho de ministros e se justificou. E foi decidido, nesse conselho, que não haveria... Desculpa, o termo que eu falei eu quero retirar. O termo não é 'conselho de ministros', na reunião de ministros. Me desculpem! Foi levado à reunião de ministros com o presidente. E o governador, presente, se explicou, apresentou suas observações. E foi decidido pela não-intervenção. Foi dessa forma que aconteceu", declarou Pazuello.

Eduardo Braga criticou o posicionamento.

"Está claro que nós identificamos essa fragilidade à época, fizemos o que deveríamos fazer como representantes do povo do Amazonas. Pedimos e assumimos perante a opinião pública e perante a Nação a responsabilidade do pedido. Nós pedimos intervenção na saúde pública do Amazonas para salvar vidas. O governo não quis fazê-lo", disse.

Pazuello declarou hoje à CPI da Covid que a responsabilidade de monitoramento do estoque de oxigênio não era o foco da Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas. Esse é o segundo dia de depoimento do general do Exército, cuja oitiva iniciou ontem (19). A audiência ontem foi interrompida depois de cerca de sete horas de duração.

A versão de Pazuello é de que o governo federal não pode ser responsabilizado pelo colapso na rede de saúde que acometeu a capital, Manaus, e o estado do Amazonas, no começo deste ano.

O governo do Amazonas afirmou hoje que nunca recusou "qualquer tipo de ajuda relacionada às ações de enfrentamento à covid-19".

Braga questionou Pazuello a respeito das razões que levaram o estado a entrar em colapso após falta de insumos aos pacientes da covid-19.

Gostaria de fazer um pequeno voo de volta a dezembro, só para poder contextualizar uma resposta como essa. Fica claro para mim que a preocupação com o acompanhamento do oxigênio não era um foco da Secretaria de Saúde do Amazonas, porque não focou oxigênio e ficou focado em outras coisas. Isso lá em dezembro ainda. No próprio plano de contingência apresentado para nós, não tinha nada sobre oxigênio"
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde

Na perspectiva de Pazuello, a secretaria deixou de acompanhar os processos e de se antecipar aos problemas que aconteceriam um mês depois, em janeiro, quando ocorreu a falta de oxigênio na região.

O ex-ministro disse que foi ao estado para compreender o problema e que a pasta foi "muito proativa".

Em contrapartida, Braga alegou que discorda do que Pazuello declara e que a comissão do Ministério da Saúde chegou em Manaus sem providenciar a busca de oxigênio na Venezuela.

O parlamentar também questionou sobre o encerramento das atividades do Hospital de Campanha Nilton Lins, ao que o general do Exército informou que as decisões do fechamento foram do governador do Amazonas, Wilson Lima.

* Com Ana Carla Bermúdez, colaboração para o UOL.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.