Topo

A nova face dos Estados Unidos

Latinos protestam contra Donald Trump em Nova York - Andrew Renneisen/Getty Images
Latinos protestam contra Donald Trump em Nova York Imagem: Andrew Renneisen/Getty Images

12/02/2016 06h02

Meu filho Nicolás vai completar 18 anos no verão e, portanto, poderá votar nas eleições presidenciais de novembro nos EUA. Talvez Nicolás não saiba ainda, mas, em uma eleição muito apertada, ele e milhões de jovens latinos decidirão quem será o próximo (ou a próxima) presidente do país.

Esse não será um presente de aniversário muito atrasado, ou os bons desejos de um pai orgulhoso. É a realidade. Os números são impressionantes: em 8 de novembro de 2016 haverá 27 milhões de hispânicos aptos a votar, segundo o Centro de Estudos Pew. E quase a metade deles (44%) são latinos muito jovens, a chamada "geração do milênio", de 18 a 34 anos de idade.

Muitos desses latinos "milenares" são filhos de pais imigrantes, falam espanhol em casa e jogaram futebol (ou "soccer") antes do futebol americano. Apesar de terem aprendido muito sobre sua origem latino-americana e a ser solidários com os imigrantes, integraram-se fácil e eficientemente à sociedade dos EUA.

Em geral, têm mais instrução que seus pais e melhores salários. Sentem-se, e são, americanos. De fato, são o melhor exemplo de que o sonho americano não é um mito.

Desde menino, Nicolás me acompanhava a jogar futebol nos sábados de manhã. Depois, na escola, transformou-se em um grande e temido jogador. Sempre teve pernas muito fortes e bom olho para encontrar o gol. Mas quando entrou para a escola secundária, a "high school", tudo mudou. Deixou a bola redonda por uma ovalada, e sua meta é ser artilheiro em uma equipe de futebol americano na faculdade. Chuta a bola a mais de 70 jardas. Sou seu torcedor.

Nicolás é muito ligado a membros de sua família em Porto Rico e no México, mas sua identificação é, claramente, com os EUA. Assistimos juntos a vários debates presidenciais, analisamos as diferenças entre os candidatos, ele as compara com as ideias de seus amigos e sabe que, assim que completar 18 anos, irá se registrar para votar na eleição presidencial.

Esse é exatamente o problema. Os jovens latinos votam muito pouco. Em 2012, só 37 em cada 100 jovens hispânicos foram votar. É pouquíssimo. Mas não é um problema apenas dos jovens. Só 48 em cada 100 latinos de todas as idades votaram há quatro anos (comparados com 64% dos brancos e 66% dos afro-americanos). Há mil desculpas e explicações, mas a triste realidade é que os latinos votam pouco.

Talvez isso mude, graças a Donald Trump. Seus insultos contra os imigrantes foram tantos e tão frequentes que eu não estranharia que, indignados, milhões de latinos saiam para votar pela primeira vez. Esse, sim, seria um duro golpe contra a intolerância e a xenofobia.

A verdade é que Trump --ou qualquer que seja o nomeado pelo Partido Republicano à Presidência-- vai suplicar no verão e no outono pelo voto dos jovens latinos, sobretudo em Estados chaves como Flórida, Nevada e Colorado. É a única maneira de ganhar a Casa Branca dos democratas, que, historicamente, conseguiram dois de cada três votos hispânicos. Nicolás e seus amigos verão como os candidatos presidenciais de ambos os partidos tentarão atraí-los.

"Vimos o futuro e o futuro é nosso", disse em 1984 o líder camponês Cesar Chávez. "Essas tendências são forças da história que não podem ser detidas. Nenhuma pessoa ou organização pode resistir a elas por muito tempo. São inevitáveis." Ele tinha razão.

Nós, latinos, passaremos de 55 milhões para mais de 100 milhões até 2050. E os latinos somos muito jovens --a média é de 19 anos para os nascidos nos EUA--, e a cada ano mais de 800 mil hispânicos completam 18 anos e se transformam em potenciais eleitores.

Preparem-se para festas, "piñatas", "mariachis" e um monte de políticos arranhando o espanhol com o objetivo de ganhar o voto latino. Acontece em toda eleição presidencial. É tão óbvio que até lhe dei um nome: a síndrome de Cristóvão Colombo (porque parece que a cada quatro anos redescobrem os latinos neste país).

Nas mãos de Nicolás e de sua geração está o futuro dos EUA. E eu me encarregarei de garantir que na terça-feira, 8 de novembro, bem cedo, Nicolás saia para votar.

O resto depende dele.