Conflito na Ucrânia dá tom a nova política de ciberguerra da Otan
A reunião de cúpula da Otan realizada no começo de setembro em Newport, no País de Gales, trouxe uma novidade histórica. Pela primeira vez, as potências congregadas na Aliança Militar do Atlântico Norte incorporaram medidas de ciberguerra ao seu arsenal.
A segurança das redes informáticas de seus países membros está há bastante tempo no centro das atenções do comando da Otan, sediado em Bruxelas. Mais ainda, a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e seus aliados, em 2003, já havia incluído ataques ao ciberespaço iraquiano.
Contudo, transcorrendo na fronteira oriental da Otan, o conflito russo-ucraniano deu nova dimensão ao problema. Segundo informações do comando americano da Otan, citadas pelo jornal "Le Monde", nas operações militares de anexação da Crimeia os militares russos introduziram, com sucesso, uma ciberofensiva. Ao mesmo tempo em que avançavam com suas tropas, os russos cortaram todas as comunicações eletrônicas entre as forças ucranianas estacionadas na Crimeia e seus centros de comando em Kiev.
Neste contexto, a Otan elaborou sua nova “política de ciberdefesa reforçada” (Enhanced Cyber Defense Policy). Doravante, o ciberespaço dos países-membros faz parte do sistema de defesa da aliança militar. Assim, um ataque às redes informáticas de um país membro será considerado como uma ofensiva de guerra convencional à Otan.
Sediado em Tallin, capital da Estônia, o Centro de Ciberdefesa da Otan, deverá ser reforçado. Da forma com que foi comentada em alguns jornais e sites noticiosos, a decisão pode parecer preocupante. Segundo os especialistas, o sistema gere 147 milhões de eventos suspeitos por dia. Como distinguir entre um ataque desencadeado por cibercriminosos e hackers russos ou chineses, de uma ofensiva militar em larga escala lançada por Moscou ou por Beijing?
Num artigo no semanário francês "Le Nouvel Observateur", a especialista em ciberestratégia Maxime Pinard um observa que os efeitos práticos da nova política da Otan são mais moderados. Sublinhando que em nenhum momento o comunicado da aliança menciona a palavra “ciberguerra”, frequentemente usada na mídia, Pinard alinha outros elementos importantes.
Além da dificuldade de determinar a origem dos ataques, os Estados-membros consideram que a ciberdefesa e a cibersegurança integram a soberania nacional de cada país. Por isso, ele considera que uma contraofensiva coletiva da OTAN frente a um ciberataque continua pouco provável.
Resta que a história da Europa foi marcada por conflitos desencadeados por atos isolados no meio de fortes tensões internacionais. Há cem anos, quando o nacionalista sérvio Gavrilo Princip assassinou o arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do império austro-húngaro, e sua esposa, os principais jornais do mundo publicaram notícias do atentado em suas primeiras páginas. Mas nenhum deles pressentiu que o assassinato desencadearia o mais sangrento conflito europeu –, a Primeira Guerra Mundial -, cuja conclusão deixou ainda em aberto desequilíbrios que precipitaram a Segunda Guerra Mundial.
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