Kamala é a melhor anti-Trump que democratas poderiam escolher
A hora e a vez é de Kamala Harris, vice-presidente dos EUA e provável candidata à Presidência pelo Partido Democrata depois que Joe Biden desistiu de sua candidatura à reeleição no último domingo (21).
"Harris é o oposto de Trump em absolutamente tudo", disse o colunista José Roberto de Toledo no podcast A Hora desta semana.
Além das diferenças óbvias, como os fatos dela ser mulher e filha de imigrantes (mãe indiana e pai negro e jamaicano), temos ainda outras discrepâncias importantes. Enquanto Kamala vem de uma família de cientistas, Trump é um antivacina negacionista.
A democrata fez carreira como promotora de Justiça, processando criminosos, e ele é um condenado pela Justiça. Ela ocupou cargos públicos e ganhou todas as eleições que concorreu, sendo quatro para promotora, duas para senadora e uma para vice-presidente, e ele é um paraquedista da política, concorrendo somente à Presidência dos EUA (ganhando na primeira eleição em 2016 e perdendo na reeleição, em 2020).
Do ponto de vista simbólico, a eleição norte-americana hoje é completamente diferente do que era uma semana atrás, com um pré-candidato octogenário, com sinais que colocavam em dúvida suas capacidades cognitivas e que não empolgava ninguém. Agora, há uma possível candidata levanta a bandeira dos imigrantes e fala abertamente sobre aborto e crimes financeiros.
Enfim, mudou completamente o cenário. Virou essa polarização que não existia antes contra o Biden, porque ninguém se empolgava com o Biden. Ela [Kamala] incutiu essa empolgação fundamental para levar alguns segmentos do eleitorado a votar, já que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos, principalmente jovens e a comunidade negra.
José Roberto de Toledo
Para o colunista, "dadas as circunstâncias - o tiro na orelha do Trump, a escolha do vice e a renúncia do Biden -, tudo tão perto e tão embolado, fez basicamente com que ela [Kamala] fosse ungida candidata. Todos os outros pré-candidatos democratas, que poderiam se colocar como candidatos, já a apoiaram de saída e ela se tornou consensual dada a urgência do enfrentamento ao Trump".
Não dá para falar em favoritismo, mas Toledo acredita que "pelo menos alguma chance os democratas passaram a ter". Além disso, os republicanos já estão dando sinais de que estão preocupados com a disputa. O primeiro sinal são os ataques misóginos e racistas contra Kamala nas redes sociais com mentiras do tipo: não é cidadã americana, subiu na vida devido à política de cotas e por ter relacionamentos com homens poderosos na política (Willie Brown, deputado e prefeito, quatro anos mais velho que o pai de Kamala).
O outro sinal é o aparente receio de Trump de enfrentar a adversária na TV, argumentando que não quer fazer o debate na ABC, uma das três maiores do país, e sim na Fox News, emissora republicana. "Com o Biden ele queria ir porque queria passar o trator por cima, como passou no primeiro e único debate que houve entre os dois nessa eleição. Com a Kamala Harris, que tem um estilo inquisitorial, treinada como promotora, ele já tirou o time de campo", finalizou Toledo.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.
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