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Amaury Ribeiro Jr

Verde vai ressurgindo no Pantanal, mas fuga de animais preocupa

Com solo ainda coberto de cinzas, plantas do Pantanal já davam sinais de recuperação - Arnildo Pott/Imagem cedida ao UOL
Com solo ainda coberto de cinzas, plantas do Pantanal já davam sinais de recuperação Imagem: Arnildo Pott/Imagem cedida ao UOL

Pesquisadores se dizem impressionados com o poder de recuperação da vegetação do Pantanal. Depois de serem praticamente destruídas pelos incêndios, a maioria das espécies da vegetação voltou a ficar verde em várias regiões de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Para os biólogos, no entanto, não há muito o que comemorar, já que os prejuízos provocados contra a fauna, flora e os moradores da região são incalculáveis.

"Muitas espécies da flora e da fauna vão demorar para voltar. Quando acontece uma tragédia dessas proporções, todo mundo paga a conta: os ribeirinhos, os pantaneiros que perderam áreas de pastagem e áreas de cultura", afirmou o pesquisador Nilson de Barros, presidente da Sociedade de Defesa do Pantanal.

Filho de pantaneiro e ex-chefe da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Corumbá (MS), Barros disse que junto com a plantação verde surgiram milhares de pragas, o que tem dificultado a recuperação de áreas de cultivo de lavouras e o ressurgimento de áreas de pastagens na planície. "Nunca vi tanta praga como antes", disse.

Barros encaminhou ao UOL diversas fotos tiradas por moradores da região na região da Serra do Amolar e do Paiaguás em dois momentos diferentes: durante a queimada e depois dos incêndios. As fotos mostram que até coqueiros totalmente queimados, em vez de morrer, voltaram a ficar verdes. "São coisas que só acontecem no Pantanal porque essas plantas brotam mesmo com pouca água. É impressionante o poder fora do comum que o Pantanal tem para se adaptar às cheias e secas", afirmou Barros.

Segundo o pesquisador, as cinzas dos incêndios se transformaram em um adubo potente, que tem ajudado as plantas a brotar. Além das espécies vegetais dizimadas, o pantaneiro se diz preocupado com muitos animais que se refugiaram na Bolívia e outras regiões durante os incêndios e que ainda não retornaram para a região da Serra do Amolar.

Barros defende um trabalho preventivo para evitar que novos incêndios, como o do ano passado, voltem a acontecer. "É preciso montar brigadas contra incêndios permanentes, formadas por homens da região, que conhecem a região", afirma Barros. Ele lembra que esse tipo de brigada já está sendo montada por Ângelo Rabelo, capitão reformado da Polícia Florestal e presidente do Instituto Homem Pantaneiro, na região da Serra do Amolar.

Verde em meio às cinzas

Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o botânico Arnildo Pott é ex-pequisador da Embrapa e começou a acompanhar o brotamento de várias plantas em novembro quando o Pantanal ainda estava em chamas. Pott também encaminhou ao UOL fotos de várias plantas brotando em meio às cinzas.

"Trabalho há 40 anos na região e já vi isso ocorrer várias vezes. A flora do Pantanal tem um poder de reação gigante, mas algumas espécies dizimadas demorarão um pouco mais para brotar", disse Pott.

A exemplo de Barros, Pott defende a criação de brigadas permanentes contra fogo formadas por moradores da região. "Eu vi uma cena inacreditável, bombeiros tentando apagar fogo com bomba costal [equipamento manual que fico preso às costas]. Obviamente não conseguiu apagar nada. É preciso um trabalho preventivo feito por moradores da própria região que conheçam o Pantanal."

Errata: este conteúdo foi atualizado
A foto usada inicialmente para ilustrar a reportagem era uma comparação de antes e depois na mata do Pantanal feita em 2019, e não em 2020 como indicado na reportagem. A imagem foi substituída.