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Amaury Ribeiro Jr

REPORTAGEM

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Justiça de Minas manda soltar genro de desembargador acusado de pedofilia

Imagem do Google mostra casa que, segundo a polícia, teria sido usada em esquema de pedofilia e prostituição de menores em Belo Horizonte - Reprodução
Imagem do Google mostra casa que, segundo a polícia, teria sido usada em esquema de pedofilia e prostituição de menores em Belo Horizonte Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

26/02/2021 18h56

O Tribunal de Justiça de Minas (TJMG) concedeu liminar que colocou em liberdade o engenheiro mecânico Leonardo Rodrigues Zambrana, 42. Ele responde a processo por suspeita de exploração sexual de crianças e adolescentes, organização criminosa e armazenamento de material pornográfico infantil.

Zambrana é genro do desembargador aposentado Irmar Ferreira Campos, dono de um dos escritórios de advocacia mais conceituados de Belo Horizonte.

Sem sucesso, o UOL tenta desde dezembro (pessoalmente e por telefone) falar com o sogro de Zambrana. Como o processo tramita em segredo de Justiça, o nome do desembargador que concederam o habeas corpos não foi revelado.

Até o dia 12 de dezembro passado, quando foi preso em um supermercado na capital mineira, Zambrana era procurado pela polícia mineira e pela Interpol (polícia internacional). A polícia chegou a espalhar cartazes com a foto do engenheiro e com os dizeres: "Denuncie". Segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público, caberá à Procuradoria de Justiça do Estado recorrer da decisão no próprio tribunal.

Acusados pelo MP de pertencerem à mesma organização criminosa de Zambrana, o atleta e influenciador digital Rodrigo Fiúza e Lorraine Stefani, suspeita de ser aliciadora de menores, também entraram com pedido de habeas corpus para responder ao processo em liberdade. Mas o recurso foi negado pelo mesmo tribunal.

Ao contrário de Zambrana, Fiúza e Lorraine nunca foram foragidos da polícia. Uma possível ameaça de fuga é um dos argumentos jurídicos que poderiam embasar a manutenção da prisão preventiva, segundo juristas ouvidos pela coluna.

Perguntado por e-mail pelo UOL por que somente o cliente dele obteve o benefício, o advogado de Zambrana, Rodrigo Suzana, não se manifestou até a publicação deste texto. Procurada em outras ocasiões, a defesa não comentou a investigação e a denúncia do MP.

Mãe da vítima denunciou o fato

Segundo revelou o UOL em dezembro do ano passado, durante a pandemia Fiúza alugou uma casa na Rua Xangrilá no bairro da Pampulha onde meninas de 12 a 17 eram supostamente oferecidas em festas a empresários e outros moradores da cidade. Conhecida como a "Casa dos Anjos", o imóvel usava como fachada a empresa de Fiúza "Loucos por Aventura".

De acordo com as investigações, depois de drogadas e violentadas sexualmente, as meninas eram fotografadas nuas e as imagens expostas na internet. Uma das fotos de uma das vítimas foi acessada pela mãe que procurou a polícia.

Durante as investigações, a polícia localizou em um escritório de Zambrana em Belo Horizonte suposto material de pornografia infantil.

A polícia apontou ainda que nesse mesmo escritório teriam sido falsificados, a pedido de Fiúza, documentos das meninas. Esses documentos eram usados, de acordo com a denúncia do Ministério Público, em viagens oferecidas por Fiúza às adolescentes em troca de sexo. Zambrana foi indiciado pela polícia por estelionato e falsificação, mas acabou não sendo denunciado por esses crimes pelo MP.

Além de Zambrana, Lorraine e Fiúza, outras seis pessoas respondem processo pelos crimes de organização criminosa e outros delitos. Entre os réus, está o fotógrafo que registrava a foto das meninas nuas. Com exceção de Fiúza e Lorraine, todos os réus respondem ao processo em liberdade.