O golpe já está em marcha, com ameaças ao STF
Ninguém precisa mais perder tempo discutindo se haverá ou não golpe militar-miliciano.
Poucas horas depois de o ministro Luiz Fux, do STF, conceder liminar declarando que " as Forças Armadas não exercem poder moderador em eventual conflito entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário", nota conjunta divulgada por Bolsonaro, Mourão e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, acabou com as ilusões de que o Brasil ainda vive numa democracia.
Eles escreveram com todas as letras para ninguém mais ter dúvidas:
"As FFAA do Brasil não cumprem ordens absurdas, como p.ex. a tomada de Poder. Também não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos".
Não é preciso desenhar. Quem vai decidir o que são "ordens absurdas" ou "julgamentos políticos"?
É o próprio capitão Bolsonaro, alvo de processos no TSE, por supostos crimes cometidos durante a campanha eleitoral, que podem levar à cassação do presidente e do vice, e de investigações no STF, que podem abrir um processo de impeachment no Congresso por crime de responsabilidade.
Ou seja, Bolsonaro, Mourão e Azevedo, falando em nome das Forças Armadas, avisam que não irão aceitar uma eventual condenação.
Em poucas palavras, é o popular "dá ou desce".
Se o Judiciário se submeter à clara chantagem, Eduardo Bolsonaro não precisará nem chamar um cabo e um soldado para fechar o STF.
Nem serão necessários tanques nas ruas para sacramentar o golpe, que já vem sendo implantado, passo, a passo, dia a dia, a conta gotas.
"Tentativas de tomada do Poder por outro Poder da República", alerta a nota. Como assim? Qual Poder está querendo tomar o Poder de Bolsonaro?
O STF? Por acaso os ministros do Supremo querem se mudar para o Palácio do Planalto?
O Congresso, com Alcolumbre, Maia e o Centrão, que sentaram em cima dos pedidos de impeachment, e não querem nem ouvir falar nisso?
Se não fosse tudo tão grave, eu diria que os três mosqueteiros do Planalto estão brincando com a gente.
A oposição, coitada, que não consegue nem se unir numa frente em defesa da democracia ameaçada?
Só quem ameaça o governo Bolsonaro é o presidente Bolsonaro, que incita seus seguidores a invadir hospitais para filmar leitos vazios.
A declaração de guerra também lembra que, segundo o artigo 142 da Constituição, "as Forças Armadas estão sob a autoridade suprema do Presidente da República".
Sim, todos sabemos disso, mas as Forças Armadas existem para defender a população brasileira de inimigos externos, não o presidente em exercício.
Os militares levaram 30 anos para reconquistar a confiança da população, depois do estrago dos longos anos de ditadura militar, e agora alguns deles colocam tudo em risco ao trocar o apoio cego ao capitão por cargos no governo, para dobrar seus soldos.
Só os mais fanáticos da seita bolsonarista defendem a volta dos militares ao poder, mas nem precisavam. Eles já voltaram, discretamente, ocupando quase todos os postos-chave do governo.
Ninguém está querendo tomar o poder de Bolsonaro, que ele nunca exerceu, em favor da população ameaçada pela pandemia, mas apenas para defender a sua família e seus agregados, enrolados com a Justiça.
Até o momento em que comecei a escrever, não houve nenhuma reação dos outros poderes diante da nota autoritária e ameaçadora da noite de sexta-feira, escrita numa linguagem pedestre.
Ou o Brasil democrático e as instituições civis reagem a esse avanço golpista, agora sem disfarces, ou o STF e o Congresso vão virar puxadinhos do quartel-general instalado no Planalto.
Estão em jogo a sobrevivência do nosso país e de cada um de nós que reconquistamos a liberdade nem faz muito tempo.
Vida que segue.
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