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"Eu já falei com a Caixa", diz Wajngarten em vídeo, sobre casas em Maresias

Chefe da Secom, Fabio Wajngarten, arruma microfone ao lado do presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada - Reprodução
Chefe da Secom, Fabio Wajngarten, arruma microfone ao lado do presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

25/02/2023 18h15

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Quem lê só o título desta matéria pode imaginar que Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) no governo passado, pretendia ajudar a Prefeitura de São Sebastião a conseguir aprovação do projeto de construção de 400 casas populares, na praia de Maresias, para moradores que viviam em áreas de risco nas encostas da Serra do Mar, como os que morreram na recente tragédia da tromba d'água.

É normal que autoridades federais procurem ajudar os pleitos das cidades onde moram ou têm casas de veraneio, como é o caso do ex-secretário. Nesse caso, porém, aconteceu o contrário: Wajngarten esteve numa reunião da Somar, a associação de moradores de Maresias, mas para se colocar ao lado dos que queriam impedir a construção das casas populares, que poderia provocar uma desvalorização nos imóveis dos vizinhos de condomínios de luxo.

Em reportagem publicada hoje no Globo por Bianca Gomes e Cleide Carvalho, com um vídeo da reunião, ficamos sabendo como foi. Sem meias palavras, o patriota da Secom foi direto ao ponto:

"Enquanto eu estiver em Brasília, usem a minha posição lá. Utilizem meus contatos. Essa história da habitação, das casas, o Eliseu me endereçou há uma semana, perto do Réveillon. Eu liguei para o presidente da Caixa Econômica para saber se era verdade que o governo federal estava envolvido nisso. O presidente da Caixa não estava nem sabendo disso", como se ele pudesse saber de todos os projetos em andamento na instituição, sendo que o de São Sebastião ainda nem tinha sido apresentado.

Isso aconteceu há três anos, e foi tudo muito rápido. As casas nunca sairiam do papel. Apenas cinco dias após Fábio Wajngarten se reunir com a associação de moradores de Maresias, como prova do seu prestígio em Brasília, a Caixa vetou o projeto da Prefeitura de São Sebastião, informa a matéria do Globo.

O Eliseu a que o ex-secretário se refere é Eliseu Arantes, presidente da Somar na época. Segundo ele, no encontro com Wajngarten só se discutiu a falta da rede de saneamento para a construção de novas moradias, uma louvável preocupação, que não impediria a construção de novas mansões nos condomínios exclusivos à beira mar, que não queriam saber de pobres na vizinhança, como escrevi na coluna anterior.

No mesmo dia em que o prefeito Felipe Augusto (PSDB) deu entrada na Caixa do pedido de financiamento para famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil, a chamada Faixa 1, dos mais pobres, o projeto foi sumariamente vetado pelo banco presidido na época por Pedro Guimarães, aquele mesmo que ficou famoso por suas investidas contra funcionárias. Tudo "gente de bem", como se vê.

Para isso, a Caixa alegou que não havia "disponibilidade orçamentária no Ministério das Cidades para custear unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida para quem só pode pagar prestações de R$ 270 por mês. Só haveria financiamento para famílias na faixa de até R$ 9 mil de renda, que certamente não habitam as áreas de risco.

Procurado pela reportagem do Globo, Wajngarten não quis se pronunciar, mas reproduziu no Twitter o vídeo da reunião com uma frase lapidar: "Função do ente público é sempre ajudar a população". Que tipo de população? Seria interessante esclarecer. E ainda completou: "Não tem nada de Ricos X Pobres".

Ah, bom... E ainda teve a coragem de enumerar suas preocupações: "hospital, casas populares, saneamento básico e transparência".

Publicitário paulista, Fábio Wajngarten deixaria depois o governo, mas foi um dos mais fiéis aliados até o fim do governo do ex-presidente foragido nos Estados Unidos, e trabalhou como voluntário em sua última campanha.

Vida que segue.