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Carlos Madeiro

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Brasil vai gastar R$ 200 mi em supercomputador para previsão do tempo exata

Supercomputador Tupã, no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do INPE  - Divulgação
Supercomputador Tupã, no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do INPE Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

25/02/2023 04h00

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O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) está finalizando a documentação para lançar um edital de licitação para comprar um novo supercomputador que vai ampliar a capacidade de previsão de tempo e de clima no país.

A nova máquina deve causar uma revolução na forma como as previsões serão feitas, com detalhes exatos de local e período de chuvas, por exemplo. O dinheiro para aquisição do módulo inicial já está disponível.

"É como se a gente saísse de uma calculadora para um laptop de última geração", compara Gilvan Sampaio, coordenador-geral de Ciências da Terra do Inpe, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Em paralelo ao novo supercomputador, o país também terá um novo modelo numérico para previsão de tempo e de clima desenvolvido pela comunidade científica nacional, sob comando do Inpe. O projeto está em desenvolvimento, e o novo modelo se chamará Monan.

Quando o supercomputador chega?

A ideia é que a nova máquina chegue ao Brasil no segundo semestre do ano e seja colocada em operação até novembro.

Ao todo serão investidos R$ 200 milhões do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) no novo equipamento, que deve ser totalmente instalado até 2026, em quatro etapas anuais.

A primeira das quatro parcelas do fundo para comprar o primeiro módulo no valor de R$ 47,5 milhões já está na conta da Fundação de Apoio do Inpe desde o final do ano passado.

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do INPE, no interior de São Paulo - Divulgação - Divulgação
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do INPE, no interior de São Paulo
Imagem: Divulgação

Mas o que muda?

A necessidade de um novo supercomputador foi aventada há pelo menos seis anos, quando cientistas do Inpe cobraram do governo federal a aquisição para aposentar o atual Tupã (leia mais sobre abaixo).

A nova máquina usa uma tecnologia capaz de fazer cálculos e equações mais complexas, o que produzirá respostas mais precisas sobre eventos meteorológicos e climáticos, como por exemplo chuvas intensas e episódios de secas.

Poderemos fazer uma previsão de metros, com alto grau de detalhamento e capaz de apontar quando vai começar e que horas vai parar uma chuva.
Sampaio

Segundo o diretor do Inpe, o novo computador vai colocar de novo o Brasil no primeiro mundo da área.

"E ele vai permitir desenvolver o Monan, que está em desenvolvimento há um ano e meio com a participação de diversas instituições nacionais", afirma.

Mesmo com apenas um módulo inicialmente, Sampaio diz que já será "muitíssimo superior" a qualquer máquina existente no Brasil dedicada para previsão do tempo.

Já nesse primeiro momento ele vai suprir nossas necessidades. Como teremos aportes de mais três parcelas de aproximadamente R$ 50 milhões, cada ano vamos adquirir mais módulos e aumentar a capacidade dele com o tempo.
Sampaio

Destruição em Juquehy, São Sebastião (SP) - Fernando Marron/AFP - Fernando Marron/AFP
Destruição em Juquehy, São Sebastião (SP)
Imagem: Fernando Marron/AFP

Fim da linha para o Tupã

Com o novo supercomputador, o Tupã, instalado no Inpe desde 2010, será aposentado após 13 anos de operação. O equipamento que revolucionou a tecnologia de previsão do tempo e clima na década passada já apresentava uma série de problemas há algum tempo.

Composto por várias máquinas, ele está defasado e apresenta dificuldades de manutenção —já que o modelo parou de ser fabricado em 2017.

Antigo, não há mais peças para eventual substituição, por exemplo. Além disso, ele tem alto consumo de energia, com gasto de R$ 7,2 milhões por ano.

Com o novo supercomputador, que ainda terá um nome escolhido, o custo de consumo de energia vai cair de forma exponencial porque, além de mais moderno e econômico, ele será abastecido por uma planta de energia solar. "Deve ser o primeiro supercomputador do mundo abastecido assim", diz Sampaio.

Supercomputador Tupã, comprado em 2010 e que será desativado - Divulgação - Divulgação
Supercomputador Tupã, comprado em 2010 e que será desativado
Imagem: Divulgação

Necessidades a se atender

Para José Antônio Marengo, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e membro titular da Academia Mundial de Ciência, o Brasil tem limitações para previsão porque o Tupã está obsoleto.

Precisamos de modelos com maior resolução espacial e que considerem a mancha urbana, áreas desmatadas e topografia mais detalhadas. Para isso, é preciso ter supercomputadores.
Marengo

O meteorologista Humberto Barbosa lembra ainda que os supercomputadores são alimentados por informações de tempo e clima para modelar as equações matemáticas e físicas. "Eles modelam bilhões de equações por segundo e alcançam 80%, 90% de exatidão nos locais do mundo onde são usados", diz.

Mas ele faz uma ponderação: é preciso ampliar a rede nacional de captação de dados para fornecer mais informações.

Você precisa dar ao supercomputador as condições da atmosfera. São dados de estações, de radiossondagens, dos oceanos, de temperatura, da pressão, do vento. Esse conjunto é que fará ele gerar previsões com 24 a 72 horas de antecedência e até sazonais, com até três meses.
Barbosa