Governo do CE recua e muda local de usina que ameaçaria cabos de internet
O governo do Ceará recuou e decidiu mudar a área onde será feita a usina de dessalinização de água do mar. A obra vai afastar cerca de 1 km de distância do local originalmente anunciado, na praia do Futuro, em Fortaleza.
A nova localização foi acertada após uma queda de braço do governo do estado com o setor de telecomunicações e a Anatel, que eram contrárias à instalação da usina naquele ponto por conta da proximidade a cabos submarinos que chegam da Europa e dos EUA e "ligam" a internet brasileira.
O anúncio da mudança foi dado primeiramente pelo jornal Diário do Nordeste e confirmada pelo UOL com o governo cearense.
Segundo apurou a coluna, após o imbróglio, que envolvia ameaças das teles de deixarem o local e uma negativa da Anatel para a obra, o governador Elmano de Freitas (PT) assumiu à frente do caso e começou a articular com o setor diretamente.
Inicialmente, Elmano defendeu a obra no local onde ela foi inicialmente anunciada e criticou as teles, afirmando que elas queriam a "exclusividade" da praia do Futuro.
A questão é que todos os estudos técnicos que fizemos por mais de dois anos são claros que não há nenhum risco aos cabos. O que não é possível é que as empresas donas dos cabos de internet queiram ser donas da praia do Futuro. Isso não é razoável. A praia do Futuro é do povo do Ceará, do povo de Fortaleza.
Elmano de Freitas, em fala em novembro do ano passado
No local onde ficaria a usina, o governo do estado vai construir um centro tecnológico, que deve ser anunciado oficialmente em Brasília na próxima sexta-feira (14), em um encontro com autoridades do Ministério das Comunicações e setor de teles.
A ideia do governo é aproveitar a velocidade da internet que chegará ao local para atrair empresas de tecnologia e startups. O valor do centro e o novo custo da usina de dessalinização não foram informados pelo governo.
A coluna procurou a TelComp — entidade que representa operadoras de telefonia, banda larga e acesso à internet; TV por assinatura e data centers—, que defendia publicamente a mudança da área, mas ela informou que não vai se pronunciar sobre a medida por ora.
Segundo também apurou a coluna, a ideia foi construída em consenso e bem recebida pelo setor, que deve avalizar a mudança de área e a construção do centro.
Sobre o projeto
A usina terá um investimento em 30 anos de R$ 3 bilhões. O consórcio vencedor da PPP fará um investimento de R$ 520 milhões na planta, mais R$ 2,5 bilhões para manutenção e operação do sistema.
A expectativa é que a obra permita o abastecimento de cerca de 700 mil pessoas da capital e que beneficie todo o estado, já que a água que abastece a capital cearense — que não tem mananciais — vem do interior.
O local inicialmente, porém, gerou polêmica e receio de queda da internet. As empresas de tecnologia alegam que a praia escolhida é a mesma em que chegam 17 cabos submarinos —e isso traria riscos, já que eles trazem 99% dos dados de internet ao país, segundo dados do Ministério das Comunicações.
É no local que está o segundo maior hub do mundo de sistemas ópticos, atrás apenas de Marselha, na França.
A capital cearense possui uma logística estratégica para o setor por estar mais próxima dos EUA, onde está o grosso dos dados de internet do mundo.
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