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ONU: Brasil pede inquérito sobre Venezuela, que critica ato servil a Trump

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o chanceler Ernesto Araújo falam com jornalistas em Boa Vista  - Bruno Mancinelle/IOM/Pool via Reuters
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o chanceler Ernesto Araújo falam com jornalistas em Boa Vista Imagem: Bruno Mancinelle/IOM/Pool via Reuters

Colunista do UOL

06/10/2020 13h50

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As delegações do Brasil e da Venezuela trocaram acusações mútuas na ONU (Organização das Nações Unidas) num momento em que a entidade internacional aprovou uma resolução para ampliar as investigações de abusos de direitos humanos contra o regime de Nicolas Maduro.

O projeto do Grupo de Lima (bloco de países sul-americanos que reivindicam uma queda do governo de Maduro) — com o apoio nos bastidores do governo de Donald Trump — passou com 22 votos a favor, 22 abstenções e apenas três votos contra. O debate que deixou claro o profundo mal-estar entre Caracas e Brasília no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, nesta terça-feira.

Ao apresentar o projeto de estender o inquérito por mais dois anos, o Itamaraty indicou que o processo já realizado pela ONU até agora identificou crimes contra a humanidade e indicou que tais atos estariam ligados à cúpula do governo Maduro.

Segundo a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, tais crimes eram "planejados e conduzidos" por pessoas ligadas ao regime e com o objetivo de permitir que aqueles no poder continuem a comandar a Venezuela.

"A comunidade internacional não pode ficar indiferente a isso", declarou a diplomata. Segundo ela, apesar de o trabalho da ONU ter já identificado crimes, o Brasil defende que exista "muito mais a ser investigado". A avaliação do Itamaraty é de que as violações e abusos continuam e, portanto, a pressão precisa continuar.

Venezuela ataca o "cartel de Lima"

A sugestão do governo é de que a missão seja transformada em uma comissão de inquérito, um grau mais elevado de ingerência internacional. O Brasil também sugere que a ONU estabeleça um escritório consolidado na Venezuela para monitorar o país e fala abertamente em fraude.

Em resposta, o embaixador da Venezuela na ONU, Jorge Valero, subiu o tom de ataques contra o Brasil e o restante do Grupo de Lima.

Fugindo ao protocolo diplomático, Caracas indicou o bloco não deveria ser chamado de Grupo de Lima, mas de "Cartel de Lima". Sem citar nominalmente o Brasil, o venezuelano fez referências que, na sala do Conselho da ONU, foram interpretadas como um ataque a Jair Bolsonaro.

Segundo Valera, a proposta na ONU é liderada por países que "sem vergonha, se arrastam" para cumprir instruções do governo de Donald Trump.

"Eles respondem a Trump"

O venezuelano ainda diz que o autor da proposta é liderado por "presidentes fascistas e que executam um genocídio". Para Caracas, ainda sem citar o nome do brasileiro, trata-se de um chefe de Estado que deveria ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.

Valero ainda faz outra alusão ao presidente brasileiro, indicando que se trata de um presidente "muito corrupto".

Caracas chamou de "vergonha" o fato de o Grupo de Lima "falar de direitos humanos". "Eles respondem ao poder decadente de Trump. São os mais servis", disse. A Venezuela ainda apontou para o elevado número de mortes pela covid-19 no Brasil e no Peru, dois dos países que lideram o processo contra Maduro na ONU.