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Governo Bolsonaro afirma que ampliará agenda ultraconservadora pelo mundo
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Resumo da notícia
- Secretária da Família diz que temas serão levados para OEA, OCDE e outras instituições
- Em evento com grupos americanos e partidos xenófobos da Europa, Brasil explicou sua estratégia doméstica
- Vídeos do evento foram retirados do ar depois da publicação realizada pelo UOL, no fim de semana
Ângela Gandra, secretária de Família do governo de Jair Bolsonaro, afirmou a parceiros internacionais que as autoridades em Brasília estão comprometidas em expandir a agenda ultraconservadora pelo mundo, levando as pautas antiaborto e de combate ao que chamam de "ideologia de gênero" para novas organizações internacionais.
A informação foi dada pela secretária em um evento no dia 12 de março, no qual participaram também entidades americanas que apoiavam o governo de Donald Trump, movimentos ligados a grupos religiosos e mesmo partidos xenófobos, como o espanhol Vox.
No fim de semana, reportagem publicada pelo UOL revelou a participação do governo brasileiro no encontro e o programa apresentado pela secretária, o que levou entidades do movimento LGBTI+ a denunciá-la e pedir esclarecimentos. Após a publicação, os vídeos com as intervenções de representantes de governos e das entidades foram retirados do ar.
"Ideologia de gênero" é um conceito pejorativo usado pelo campo ultraconservador, muitas vezes ligado ao fundamentalismo religioso, contra os avanços nos direitos sexuais e reprodutivos e na igualdade de gênero, em especial a população LGBTQIA+. Defensores da moral costumam se referir à "ideologia de gênero" como ameaça à sociedade, posicionam-se contrários ao direito ao aborto e usam o conceito de "família" para impor uma agenda que, na realidade, tolhe direitos de quem não se alinha a esse posicionamento conservador.
Ao destacar o compromisso do governo Bolsonaro sobre o tema, a secretária garantiu que as autoridades não se limitarão a implementar as medidas no âmbito doméstico. "Vamos levar para a OEA (Organização dos Estados Americanos) e para a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em seu tempo", disse Ângela Gandra.
Até agora, a pauta ultraconservadora do governo havia se concentrado em atuações na ONU e na OMS. No caso da OEA, a missão brasileira passará a ser chefiada pelo braço direito do ex-chanceler Ernesto Araújo, Otávio Brandelli.
No caso da OCDE, o Brasil sequer faz parte e uma adesão do país ao organismo deve levar pelo menos mais dois anos para ocorrer.
Fontes no Itamaraty confirmaram à coluna que, apesar da mudança na postura do novo chanceler, Carlos França, em relação aos temas relacionados com a China e o clima, a pauta de costumes não deve ser tocada.
De acordo com a secretária, de fato, programas sobre a "primeira infância, desde concepção" seriam reforçados na agenda internacional, além de o "combate à ideologia de gênero".
O evento no qual a brasileira explicou seu plano era um seminário virtual intitulado "Uma resposta política à 'ideologia de gênero'", promovido pela organização internacional "Polítical Network for Values", uma plataforma de representantes políticos que defende valores como "a proteção da vida humana, o casamento, a família, a liberdade religiosa e de consciência".
No ano passado, ao lado do governo de Donald Trump, o Brasil fez parte de uma iniciativa para frear qualquer expansão da questão de educação sexual na agenda internacional. O projeto ficou conhecido como Consenso de Genebra.
Com a derrota de Trump, Joe Biden anunciou no primeiro dia de seu mandato que estava retirando os EUA da pauta ultraconservadora. Mas, em emails internos, a administração americana indicava aos demais países que o projeto seria mantido e que a condução seria liderada a partir de agora pelo Brasil.
De acordo com os emails, foi o próprio governo brasileiro que se colocou à disposição para liderar o projeto.
"Estamos firmes no Consenso de Genebra, estamos recebendo mais demandas de países que querem estar conosco", disse a secretária, há um mês.
Ao terminar sua participação, a brasileira ainda ouviu um elogio da mediadora do evento, que indicava que "agora é muito importante a liderança do Brasil" e o papel que o país assume nos organismos internacionais.
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