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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Eduardo comemora extrema direita na Itália com vídeo que ataca "lobby LGBT"

Presidente da legenda de extrema-direita Irmãos da Itália, Meloni deve se tornar primeira mulher a governar o país -  REUTERS/Yara Nardi
Presidente da legenda de extrema-direita Irmãos da Itália, Meloni deve se tornar primeira mulher a governar o país Imagem: REUTERS/Yara Nardi

Colunista do UOL

26/09/2022 03h58

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Eduardo Bolsonaro, deputado e filho do presidente Jair Bolsonaro, comemorou nas redes sociais os primeiros resultados da eleição na Itália e que dão a vitória ao movimento ultraconservador. Ao citar a provável nova primeira-ministra, Giorgia Meloni, o parlamentar postou um vídeo no qual ela ataca o "lobby LGBT", a imigração e o islamismo.

O vídeo foi retirado de um encontro de Meloni num evento organizado pela extrema direita espanhola, também aliada do bolsonarismo. "Sim à família natural, não ao lobby LGBT", declarou Meloni. Ela ainda completa: "Sim à identidade sexual. Não à ideologia de gênero".

Num outro trecho, ela também ataca a imigração e faz uma defesa do cristianismo. "Sim à universalidade da cruz, não à violência islâmica. Sim às fronteiras seguras. Não à imigração em massa", declarou. "Sim à nossa civilização e não aqueles que querem destruídos", completou.

Eduardo Bolsonaro ainda tentou minimizar a relação do partido de Meloni com o fascismo, alertando que a "mídia" vai dizer que o "fascismo da ultradireita" venceu. "Assim como o Brasil, a Itália agora é "Deus Pátria e Família", afirmou o parlamentar brasileiro.

Por mais que o partido de Meloni insista que não tem relações com um passado criminoso da história da Itália, os atos e suas declarações ambíguas alimentam um amplo debate.

Meloni, hoje com 45 anos, presidiu a ala jovem da Aliança Nacional, um bloco político que nasceu das cinzas do fascismo. Para alguns analistas na Itália, Meloni e seu partido representam o que poderia ser chamado de "movimento pós-fascista".

Seus críticos apontam que o movimento está repleto de símbolos do passado. Sua sede, por exemplo, continua sendo na Via della Scrofa 39, o mesmo local ocupado desde 1946 pelos grupos nacionalistas que herdaram o movimento político de Benito Mussolini.

Ao longo dos últimos anos, o jornal ligado ao grupo político, Secolo d'Italia, publicou colunas que flertavam com algumas das principais ideias fascistas.

No partido que hoje se apresenta como uma das forças políticas do país está ainda Rachele Mussolini, neta de Benito Mussolini e vereadora de Roma pelo partido de Meloni.

Durante sua meteórica carreira política, as declarações de Meloni deixaram margem para dúvidas. Numa delas, ela disse que Mussolini tinha uma "personalidade complexa". Numa autobiografia, ela tampouco rompe com o passado. "Somos os filhos de nossa história, de toda nossa história", disse. "O caminho que percorremos é complexo, muito mais complicado do que muitos querem que acreditemos", escreveu.

Assim como Bolsonaro, Meloni mantém uma estreita relação com o húngaro Viktor Orbán, com a ultradireita da França e da Espanha, além de participar de eventos políticos e religiosos nos EUA ao lado ex-presidente Donald Trump.

"Moderada", líder do partido pede que aliados evitem saudação fascista

Mas, assim como ocorreu na França com Marine Le Pen, Meloni passou a suavizar seu tom ultraconservador nas últimas semanas. A meta era a de ampliar sua base de votos.

Uma das decisões foi a de enviar uma orientação a todos os membros de seu partido, instruindo aos candidatos e apoiadores a não usar a saudação fascista em eventos. Ela também pediu que declarações extremistas sejam abandonadas e que os grupos evitem fazer referências ao fascismo.

Sua agenda também foi modificava. No lugar dos temas tradicionais da extrema direita, a ordem é a de focar em benefícios para as famílias, redução de burocracia e impostos. Mas o tema da imigração não desapareceu e um de seus slogans é direto: "Itália e os italianos primeiro".

Ao contrário de outros movimentos de extrema direita na Europa, ela evitou qualquer sinalização positiva ao presidente russo, Vladimir Putin, e insiste que, se eleita, a Itália estará ao lado dos ucranianos. Meloni também abandonou em parte das críticas contra a Comissão Europeia, uma das bandeiras dos ultranacionalistas. A mudança de tom surtiu efeito e sua base de apoio foi ampliada para além das zonas rurais.

Mas tanto a oposição como grupos de direitos humanos alertam que a mudança de tom pode ser apenas uma estratégia eleitoral. Um exemplo para muitos é o que ocorreu em 2017 quando a extrema direita chegou ao poder na pequena cidade de Ladispoli.

Uma das medidas anunciadas foi rebatizar a praça central. O nome escolhido: Giorgio Almirante, um dos ministros do governo fascista de Mussolini. E a inauguração da nova placa chegou a ser benzida por um bispo local.