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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Governo exonera diplomatas aliados ao bolsonarismo de postos nos EUA

O embaixador Nestor Forster - Embaixada do Brasil nos EUA/Divulgação
O embaixador Nestor Forster Imagem: Embaixada do Brasil nos EUA/Divulgação

Colunista do UOL

09/01/2023 10h49

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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva exonerou os diplomatas brasileiros nos EUA, vistos como aliados do bolsonarismo. Um dos afastamentos se refere à Maria Nazareth Farani Azevedo, cônsul do Brasil em Nova York, um dos postos mais cobiçados entre os serviços consulares.

Outro afetado pela medida publicada no Diário Oficial hoje foi Nestor Forster, embaixador do Brasil em Washington, um dos cargos mais estratégicos na diplomacia nacional.

As portarias foram assinadas pelo novo chanceler, Mauro Vieira. Também foi removido do cargo Gerson Menandro Garcia de Freitas, que sai da embaixada do Brasil em Tel Aviv para a Secretaria de Estado. A data da decisão é 6 de janeiro, anterior aos ataques contra a democracia brasileira.

A diplomacia de Lula já tinha indicado que gostaria de colocar pessoas de sua confiança em postos considerados como estratégicos, principalmente em locais onde algum movimento bolsonarista ou de extrema direita poderia manter relações com o Brasil.

A exoneração ainda coincide com uma pressão cada vez mais forte sobre o presidente Joe Biden para que avalie a situação de bolsonaristas que atuam a partir do território americano. Desde o domingo, a presença do próprio Jair Bolsonaro em Orlando também passou a ser questionada por deputados americanos.

Forster era um aliado de Ernesto Araújo, ex-chanceler brasileiro e um dos ideólogos da política externa bolsonarista. Sua proximidade com Donald Trump e seus apoiadores também marcou sua gestão.

No caso da embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, ela foi abraçada e celebrada pelo bolsonarismo e encampou com ardor algumas das principais bandeiras da extrema direita. A diplomata subiu na carreira sob os anos de Celso Amorim como chanceler e tornou-se chefe de gabinete. Ela chegou a ser cogitada para ser a chanceler de Dilma Rousseff.

Entretanto, causou indignação entre os demais embaixadores, e mesmo entre diplomatas estrangeiros, quando Maria Nazareth assumiu as pautas bolsonaristas com uma intensidade pouco vista entre os representantes do Itamaraty.

Antes de chegar a Nova York, em seu cargo como embaixadora do Brasil na ONU, ela promoveu em 2019 uma discussão com o ex-deputado Jean Wyllys. A cena foi gravada pelo UOL, desmentindo as versões propagadas pela diplomata sobre o incidente. No dia seguinte, o então presidente Jair Bolsonaro telefonou para a diplomata para agradecê-la por ter defendido seu nome diante do ex-BBB.

A partir daquele momento, a servidora pública passou a ser tratada pelo bolsonarismo como uma aliada. E, de fato, em visitas da ex-ministra Damares Alves à ONU, ela servia de anfitriã aos desejos da chefe da pasta que passou a ser denunciada por ativistas por promover um desmonte das políticas de direitos humanos no Brasil.

A diplomata ainda foi amplamente aplaudida por repetir com especial força as narrativas de Bolsonaro sobre diversos temas, principalmente contra a Venezuela, Cuba e contra o comunismo.

Ao cair nas graças do gabinete bolsonarista, ela ganhou a possibilidade de continuar no exterior, mesmo depois de uma década fora. Pelas regras do Itamaraty, um diplomata precisa retornar ao Brasil depois de dez anos em postos pelo mundo, ainda que haja alguma flexibilidade até 12 anos.

Maria Nazareth é casada como Roberto Azevedo, ex-embaixador do Brasil e ex-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). Ele, porém, causou surpresa ao abandonar seu cargo na entidade internacional antes de seu mandato terminar e, no dia seguinte, assumir um posto executivo numa empresa americana, em Nova York. A esposa, assim, encontrou um cargo de prestígio oferecido pelo governo Bolsonaro.

Mais recentemente, ela foi criticada por não oferecer segurança a ministros do STF que estavam em Nova York e passaram a ser hostilizados pela extrema direita.