Trump busca demonizar imigrante ao mentir sobre estrangeiros que comem cães
Ao levar uma teoria da conspiração sobre imigrantes para um debate assistido por milhões de pessoas pelo mundo, Donald Trump não apenas recorreu à desinformação gratuita. Seu objetivo era o de demonizar esse grupo da população, transformado em um de seus principais palanques eleitorais.
No debate da terça-feira com Kamala Harris, o republicano afirmou que imigrantes haitianos estavam comendo animais de estimação, como cães e gatos. Não há nada que prove que isso ocorreu e mesmo os mediadores do debate deixaram claro que a informação era falsa.
Mas o verificar a autenticidade do fato nunca foi o objetivo estratégico da campanha de Trump ao trazer o tema para a televisão. A acusação reforça a ideia no inconsciente coletivo de que os estrangeiros são bárbaros, perigosos e que não podem fazer parte da sociedade americana.
Em maio, Trump também recorreu a outra mentira para ampliar sua narrativa xenófoba e de que uma invasão está ocorrendo.
Num comício no Bronx, ele insistiu que os imigrantes que estão chegando nos EUA estão formando um "exército".
"Eles vêm da África. Eles vêm da Ásia. Eles vêm de todo o mundo. Vêm do Oriente Médio, do Iêmen. Um grande número de pessoas está vindo da China", disse Trump. "E se você olhar para essas pessoas, elas estão em boa forma física. Têm de 19 a 25 anos. Quase todos são homens e parecem ter idade para lutar. Acho que eles estão formando um exército. Querem nos pegar por dentro", disse.
A demonização do estrangeiro, portanto, não é um ato isolado. Mas uma estratégia.
Nesta quarta-feira, o governo do Haiti se apressou para condenar os "comentários discriminatórios" feitos por Trump. "Infelizmente, essa não é a primeira vez que compatriotas no exterior são vítimas de campanhas de desinformação, estigmatizados e desumanizados para atender a interesses políticos eleitorais", disse o governo.
"Rejeitamos firmemente essas observações, que minam a dignidade de nossos compatriotas e podem colocar suas vidas em risco", acrescentou.
Indigesto e discriminatório, Trump é, no fundo, a faceta contemporânea de mais de 200 anos de demonização do estrangeiro indesejado. Um novo capítulo de cartazes nos restaurantes do Sul do país que diziam claramente: "No Dogs, No Negros, No Mexicans".
O candidato é apenas a imagem invertida de um país que luta, todos os dias, para construir uma narrativa de ser um local de acolhimento. Ao contrário da crença popular e do que está escrito na base na Estátua da Liberdade, a história mostra que as massas de pobres jamais foram bem-vindas aos EUA. Trump apenas perpetua essa constatação.
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