Dano político do caso da 'rachadona' é devastador
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As consequências jurídicas das investigações que engolfam o senador Flávio Bolsonaro vão demorar para se concretizar. Mas o estrago político do escândalo é instantâneo e devastador. A encrenca mudou de patamar. Onde havia uma rachadinha abriu-se uma 'rachadona' com aparência de abismo.
O discurso ético de Jair Bolsonaro, que já cambaleava, caiu no precipício. Sumiram em definitivo a diferença heroica que o presidente atribuía a si mesmo e a presunção de que a poltrona presidencial era ocupada pela superioridade moral. Bolsonaro encolheu.
No intervalo de um ano, o primogênito Flávio Bolsonaro fugiu dos investigadores. Durante quatro meses, escondeu-se atrás de um escudo fornecido pelo Supremo Tribunal Federal. Seus receios revelaram-se plenamente justificáveis.
Num intervalo de apenas 24 horas, vieram à luz informações que confirmam as piores suspeitas: a desenvoltura do PM Fabrício Queiroz, os vínculos com milicianos, o repasse à mulher do presidente, a lavagem de dinheiro nas transações imobiliárias e na loja de chocolates do primeiro-filho, o diabo.
Até aqui, Bolsonaro notabilizou-se pelo entusiasmo com que cai em cima do menor pecado dos seus adversários. O escândalo da 'rachadona' tem potencial para nivelar o capitão à culpa comum dos políticos brasileiros. É como se a diferença hipotética se integrasse à baixeza geral, desautorizando o discurso ético.
Aliados do presidente começam a entoar a tese segundo a qual os pecados da família Bolsonaro são menores, como se a dimensão da transgressão fosse uma forma aproveitável de inocência.
A percepção de que os Bolsonaro não estão imunes a nenhuma tentação dos outros desautoriza a terceirização das culpas. O rosto dessa crise não é o de Flávio, mas o de Jair Bolsonaro.
Confrontado com o precipício, o presidente precisa redefinir sua estratégia para impedir que a crise passe a influenciar o rumo do seu governo. Bolsonaro precisaria estampar a imagem da tranquilidade. Essa é, para ele, a parte mais difícil.
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