Sobrevida de Juscelino vira autodesmoralização de Lula
Lula mantém o deputado licenciado Juscelino Filho no cargo de ministro das Comunicações sob a alegação de que o personagem merece o benefício da dúvida. A Polícia Federal considera que Juscelino merece mesmo é interrogatório. Macou para 10 de maio a inquirição do ministro no inquérito que apura o desvio de verbas públicas federais para a pavimentação de estrada que serve à fazenda de Juscelino, na cidade maranhense de Vitorino Freire, governada pela irmã do ministro, Luanna Rezende.
O depoimento foi marcado nas pegadas da revelação de relatório da Controladoria Geral da União. Divulgado pela Folha, o documento corrobora achados da PF. Anota que 80% da estrada beneficia apenas a propriedade de Juscelino. Orçada em R$ 7,5 milhões, a pavimentação foi custeada com dinheiro enviado por meio de emendas penduradas no orçamento da Codevasf pelo próprio Juscelino. A obra foi tocada pela construtora Construservice, investigada em outros desvios praticados na Codevasf, sob controle do centrão desde a gestão Bolsonaro.
A PF descobriu que a Construservice tem como sócio oculto um empresário chamado Eduardo José Barros Costa, o "Eduardo DP". Relatório encaminhado pelos investigadores ao Supremo Tribunal Federal sustenta que Juscelino compôs com o empresário uma "organização criminosa". A conclusão baseia-se em mensagens capturadas no celular de "Eduardo DP".
O bom senso indica que um presidente não deve acomodar na Esplanada dos Ministérios alguém que seria chamado a depor perante delegados da PF. Constatado o equívoco, Lula teve a oportunidade de exonerar o ministro. Mas deu de ombros para a suspeição que rondava Juscelino.
A obra maranhense foi deflagrada sob Bolsonaro, com verbas do antigo orçamento secreto. Na campanha de 2022, Juscelino omitiu da Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 2,2 milhões em cavalos de raça. Nomeado ministro, cavou agenda "urgente" em São Paulo como pretexto para voar em jato FAB para um leilão de equinos.
Um presidente é a soma não das suas decisões, mas das hesitações ou de tudo o que, pensando melhor, decidiu não fazer. Lula optou por converter a sobrevida de Juscelino num processo de autodesmoralização.
Deixe seu comentário