Maestro da orquestra de cordas, Paulo Guedes toca tambor no Fórum de Davos
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Paulo Guedes foi enviado à Suíça como representante da ala modernizante da administração de Jair Bolsonaro. Mas o ministro da Economia iniciou sua participação no Fórum Econômico Mundial de Davos ecoando a pregação do bloco troglodita do governo. "A pior inimiga do meio ambiente é a pobreza", disse Paulo Guedes numa das reuniões de Davos.
Nessa versão, as pessoas destroem a natureza porque "têm fome". Com suas palavras, o ministro tornou-se porta-voz internacional de uma desculpa esfarrapada do seu colega do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Quando quer desviar o foco das queimadas que arderam na Amazônia, Salles fala em harmonizar economia e ambiente, provendo oportunidades para "os 20 milhões de pobres que foram deixados para trás na Amazônia —a região mais rica em recursos naturais."
Atribuir a devastação da floresta aos pobres é uma aberração a serviço da desinformação. A tragédia ambiental de Brumadinho foi fruto de negligência criminosa da Vale, uma das maiores mineradoras do planeta. Na Amazônia, é antiga a ação da rede criminosa que une desmatadores e grileiros. O crime aumentou em 2019 porque Salles e o próprio Bolsonaro sinalizaram que a fiscalização seria afrouxada.
Ao avalizar desculpas que não se sustentam, Paulo Guedes piora a sua estampa sem melhorar a imagem do Brasil. O mundo representado em Davos está conectado à realidade. Consome informações científicas e acompanha as insanidades que Bolsonaro e seus trogloditas pronunciam.
Maestro da orquestra de cordas de Brasília, Guedes compôs uma partitura harmônica. Inclui a reforma da Previdência, déficit fiscal declinante, inflação sob controle e juros miúdos. Por razões que a sensatez desconhece, o ministro atravessou sua própria música com o ruído do tambor ambiental da gestão Bolsonaro. Por sorte, o fórum de Davos vai até sexta-feira. Se quiser, Guedes dispõe de tempo para fazer soar os violinos.
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