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Josias de Souza

Bolsonaro deseja ser visto como tiozão do WhatsApp

Colunista do UOL

26/02/2020 19h41

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Jair Bolsonaro é imbatível na arte de criar crises. Mas não sabe como desfazer as crises que produz. Por um defeito metodológico, o presidente passou a acreditar que a melhor maneira de desfazer suas crises é criar outras crises, ainda maiores.

Antes do Carnaval, Bolsonaro criou duas crises. Numa, irritou seu principal ministro, Paulo Guedes, ao retardar a assinatura da reforma administrativa. Noutra, arrastou o cadáver do miliciano Adriano da Nóbrega para dentro do Planalto.

Como se fosse pouco, o presidente estimulou uma terceira crise ao assistir em silêncio ao estrago produzido pelo comentário do ministro-general Augusto Heleno, que acusou o Congresso de chantagear o governo para abocanhar R$ 30 bilhões do Orçamento.

No finalzinho da folga carnavalesca, Bolsonaro criou uma crise maior do que as três anteriores ao distribuir pelo WhatsApp vídeos que convocam para 15 de março manifestação anti-Congresso e pró-governo.

Sobreveio a repercussão negativa. E o presidente atribui o mal-estar a "tentativas rasteiras de tumultuar a República". Alegou que apenas repassou a amigos mensagens de "cunho pessoal". Por isso usou o WhatsApp, não as redes sociais.

Mesmo os observadores mais desatentos notam que Bolsonaro compartilhou uma mensagem que tem o seu endosso. Escolheu o WhatsApp para poder terceirizar o vazamento e preparar a resposta que daria na sequência.

O problema é que, para refutar a acusação de que conspira contra a democracia, Bolsonaro pede à plateia para ignorar tudo o que está na cara e acreditar que há no Planalto não um presidente de 57 milhões de votos, mas um tiozão do WhatsApp, que compartilha nitroglicerina achando que é mensagem de "cunho pessoal".