Abraço em presa trans gera onda de ódio ao amor
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O Brasil revela-se um país paradoxal. Há menos de dois anos, 58 milhões de pessoas votaram num presidente cujo slogan consagra a tese segundo a qual "Deus está acima de tudo". Hoje, o abraço de um médico numa presidiária trans produz nas redes sociais uma onda de ódio que desafia a solidariedade cristã. Considerando-se que a solidariedade é uma forma de amor, pode-se dizer que um pedaço do país bateu bumbo nas redes para alardear o ódio que sente pelo amor alheio.
Como de hábito, o doutor Drauzio Varella abordou no seu quadro no programa Fantástico um problema relevante. Dessa vez, tratou da situação precária vivida pelas mulheres trans que cumprem pena em presídios masculinos, junto com presos homens. É como se lhes fosse imposta uma pena dentro da outra. A certa altura, ao conversar com a transexual Suzy, o médico abraçou sua entrevistada quando ela contou que não recebia visitas na cadeia havia mais de sete anos.
Num primeiro momento, a reação do público foi de solidariedade. Uma chuva de cartas foi endereçada à presidiária Suzy. Depois, a notícia de que a abraçada fora condenada por estuprar e matar um menino de nove anos ateou nas redes a fúria que levou Drauzio a divulgar uma nota. Nela, o doutor recorda que cuida da saúde de condenados há 30 anos. E não pergunta que crimes cometeram. "Sou médico, não juiz."
Não se deve contemporizar com criminosos. Seria um despautério e um desrespeito com a dor dos familiares da vítima. Mas é preciso lembrar que o caso se refere a uma presidiária trans condenada e submetida ao cumprimento do seu castigo. Como não há pena de morte nem prisão perpétua no Brasil, o melhor que o Estado tem a fazer é tentar reabilitar a condenada. Drauzio não fez senão mostrar uma face do desafio com a visão humanista que se exige de um profissional da saúde. Muita gente parece disposta a meter a colher na encrenca. Mas poucas pessoas revelam tanta disposição para melhorar a qualidade do angu quanto o doutor Drauzio Varella. Preferem destilar ódio. Fazem isso, às vezes em nome de Deus.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.