Falta saber qual é o plano antiepidemia de Bolsonaro
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É preciso tratar Jair Bolsonaro como presidente da República, não como um político exótico. Sabe-se que ele não deseja o isolamento social. Resta agora descobrir o que sugere Bolsonaro para combater o coronavírus. Do contrário, prevalecerá a impressão de que o principal problema do Brasil no enfrentamento da doença é o fato de que o presidente imagina que o problema não é dele.
Quais são os parâmetros científicos em que se escora o presidente para sugerir o fim do isolamento?, eis a primeira pergunta a ser respondida. O Ministério da Saúde receia que uma explosão de contágios simultâneos produza no Brasil um colapso do sistema hospitalar, como ocorre em outros países. O presidente precisa informar se ele se responsabiliza por arrumar vagas nas UTIs.
O modelo de funcionamento do SUS, Sistema Único de Saúde, impõe responsabilidades aos governadores e aos prefeitos. Considerando-se que Bolsonaro acha que todos estão errados e ele é quem está com a razão, é preciso que o presidente informe se planeja federalizar o SUS, assumindo toda a responsabilidade pelo excesso de cadáveres que a suspensão do isolamento pode produzir.
Nesta segunda-feira, Bolsonaro perguntou na frente do Alvorada: "Vamos enfrentar o problema ou o problema é o presidente?" A indagação sugere um incômodo de Bolsonaro com as críticas. Esperar que o mundo o trate bem porque ele se considera uma boa pessoa é como esperar que um leão faminto não ataque alguém que se diz vegetariano.
No domingo, após afrontar todas as orientações técnicas num tour pela periferia de Brasília, o presidente declarou: "O vírus tá aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque." Bolsonaro precisa explicar por que considera que seu ministro da Saúde, a cúpula da OMS, cientistas e chefes de Estado do mundo inteiro seriam moleques. De resto, falta definir o comportamento de um homem, sobretudo do homem que ocupa a Presidência do país.
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