Bolsonaro grava selfie com principal líder do centrão
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Brasília convive com dois Bolsonaros nos últimos dias. Um deles, língua em riste, pronunciou no domingo (19) o discurso crispado no qual decretou o fim da "época da patifaria", deu um basta na "velha política", e proclamou: "Não queremos negociar nada". O segundo Bolsonaro recepcionou no dia seguinte o deputado Arthur Lira (PP-AL), principal líder do centrão, réu na Lava Jato por corrupção —um legítimo representante do arcaísmo político.
No vídeo acima, obtido pela coluna, Jair Bolsonaro e Arthur Lira, pretendente à presidência da Câmara, confraternizam-se como velhos amigos. O deputado esteve três vezes com Bolsonaro desde a semana passada, inclusive nesta quarta-feira (22). Às gargalhadas, Bolsonaro gravou uma selfie com saudação a familiares de Lira, "grandes fãs".
Esse Bolsonaro da intimidade do gabinete presidencial transforma em caricatura o orador de domingo, que fazia pose de político casto diante de uma multidão de apologistas de uma intervenção militar, com reedição do AI-5 e fechamento do Congresso e do STF.
Politicamente isolado, Bolsonaro comprou brigas em excesso. Desentendeu-se com a cúpula do Congresso, acusando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de tramar a favor do seu impeachment. Estranhou-se com o Supremo, estimulando a difusão da versão segundo a qual ministros da Corte estariam mancomunados com Maia para prejudicá-lo. De resto, manteve acesa a desavença com os governadores.
Ministros militares aconselharam Bolsonaro a trocar o levantamento de muros pela construção de pontes. Os generais Braga Netto, chefe da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, responsável pela coordenação política, cogitaram organizar uma conversa com Rodrigo Maia. Bolsonaro desautorizou. E deflagrou uma articulação para atrair os aliados de Maia nos partidos do centrão e do centro.
Bolsonaro abriu negociações com um leque partidário que vai do PP do réu Arthur Lira ao MDB, ex-sócio majoritário do PT na pilhagem ao Estado. Passaram pelo gabinete presidencial desde a semana passada uma série de prontuários filiados a legendas que estrelaram os dois escândalos da era petista: mensalão e petrolão. Os novos interlocutores do Planalto celebram nos subterrâneos a disposição do presidente de levar cargos ao balcão.
Embora carregue na biografia 28 anos de vida parlamentar e passagens por sete partidos —entre eles o PP de Lira— Bolsonaro elegeu-se presidente da República em 2018 fazendo pose de candidato antissistema. Surfou a aversão do eleitorado ao petismo, ao sistema partidário e às instituições. Agora, sentindo-se ameaçado pelo sistema, o capitão realiza um movimento muito parecido com um cavalo de pau.
Bolsonaro achega-se à ala bandalha do Congresso com naturalidade hedionda. Começa a ser fustigado até por apoiadores nas redes sociais. Se não der meia-volta, logo passará a ser visto como parte integrante da "patifaria".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.