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Josias de Souza

Wasseff encosta Bolsonaro em enredo com JBS

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

21/08/2020 01h40

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Frederick Wassef costumava se gabar de sua condição de advogado dos Bolsonaro. Hoje, ostenta aparência de lobista. Num dia, faz à família presidencial o favor de esconder Fabrício Queiroz em imóvel de sua propriedade. Noutro, pede ao presidente que lhe faça a gentileza de abrir portas na Procuradoria-Geral da República, para que defendesse os interesses de uma logomarca tóxica: JBS.

Tanta desenvoltura arrastou o nome de Bolsonaro para dentro de uma notícia da revista Crusoé. Nela, o ex-advogado do presidente surge como feliz beneficiário de repasses de R$ 9 milhões da JBS entre 2015 e 2020. No final de 2019, Wasseff pediu a Bolsonaro que o recomendasse ao procurador-geral Augusto Aras. Queria ser recebido na PGR para falar sobre a delação dos executivos da JBS, que fazia água. O que mais incomoda no caso é a suspeita de que Bolsonaro atendeu ao pedido do doutor.

Wasseff foi efetivamente recebido pelo subprocurador-geral da República José Adonis Callou. Então coordenador dos processos da Lava Jato na PGR, Callou contou ao Estadão que Wasseff lhe foi encaminhado pelo gabinete de Aras. A conversa teria sido rápida, pois o doutor não exibia procuração da JBS. "Ele disse que apresentaria, mas não retornou", disse o procurador.

Aras determinou a abertura de investigação preliminar para apurar a motivação dos repasses milionários da JBS para Wasseff. Requisitou informações ao Ministério Público do Rio de Janeiro, que colecionou os dados no inquérito sobre Fabrício Queiroz, o operador da rachadinha do primogênito Flávio Bolsonaro, antigo cliente de Wasseff.

"Eventual irregularidade poderá reforçar os indícios de omissão nos acordos de colaboração premiada dos executivos da companhia", escreveu em nota oficial a assessoria de Aras. Referia-se às delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, sob risco de anulação no Supremo Tribunal Federal.

Nas repartições públicas, a honestidade marca hora, enfrenta fila e toma chá de cadeira na antessala. A corrupção chega recomendada por um amigo influente, sobe pelo elevador privativo e entra sem bater.

As investigações ainda não chegaram ao fim. Entre negativas e admissões, os protagonistas dizem que não há nada de suspeito no enredo. Porém, nada é uma palavra que às vezes ultrapassa tudo.

A cena é malcheirosa. Natural. Bolsonaro sabia dos riscos que corria quando se achegou a Wasseff. Mal comparando, quem resolve abraçar um gambá precisa saber que não sairá perfumado.