Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Micromegalomania das armas cheira a Venezuela
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A cada medida esdrúxula de Jair Bolsonaro, o pedaço da plateia que deseja sossego pergunta aos seus botões: "Onde vamos parar?" No instante em que o governo distribui vacinas em ritmo de conta-gotas e o presidente assina decretos para facilitar o acesso dos brasileiros a armas de fogo, muita gente fica tentada a atualizar a indagação: "Onde vão detê-lo?"
Bolsonaro levou à vitrine quatro decretos. Elevou de quatro para seis o limite de armas que cada brasileiro com registro pode comprar. Subiu de mil para dois mil a quantidade de munição que atiradores e caçadores podem adquirir por ano. Permitiu que atiradores comprem até 60 armas. Caçadores, até 30. Eliminou a necessidade de obter autorização do comando do Exército.
Goebbles disse: "Falem-me em cultura que eu puxo logo minha Lugger!" Bolsonaro acrescenta: "Falem-me em isolamento social que eu puxo logo meus decretos armamentistas!" E o pedaço sóbrio da sociedade: "Fale-me de qualquer coisa que não seja vacina que eu puxo logo um ronco!"
O capitão tem o hábito de criar assombrações para depois se assustar com elas. Na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, aquela em que os palavrões prevaleceram sobre as ideias, ele enxergou o fantasma de um golpe escondido atrás da política de isolamento social. Falou em armar as pessoas para que elas desafiassem governadores e prefeitos.
"Como é fácil impor uma ditadura no Brasil! Como é fácil!", disse Bolsonaro aos ministros. "O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero [...] que o povo se arme! É a garantia de que não vai ter um filho da puta pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz um bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia pra rua."
Se tudo ficasse só no gogó o caso seria apenas de camisa de força. Quando a maluquice evolui para a fase dos decretos, é preciso acionar o sistema de freios e contrapesos. Sob pena de destrambelhar a democracia.
Diz-se que Bolsonaro inveja o estilo de vida dos Estados Unidos. Deseja conceder aos brasileiros a mesma facilidade que os americanos têm para a aquisição de armas. Em verdade, a micromegalomania armamentista do inquilino do Planalto exala um aroma venezuelano.
Hugo Chávez, o coronel autocrata da Venezuela morto em 2013, fundou em 2007 a Milícia Nacional Bolivariana. Virou a maior força armada do país. Reúne mais de 2 milhões de civis voluntários.
Os milicianos de conteúdo bolivariano juram defender a Venezuela. Na verdade, compõem uma força paramilitar que ajuda a prolongar o regime ditatorial de Nicolás Maduro, o sucessor de Chávez.
A pandemia exige dos governantes o talento de um maestro e o refinamento de um violinista. Bolsonaro só conhece a percussão. Na crise sanitária, é um estorvo para quem busca solução. O Apreço pelas armas mostra que o presidente desenvolveu uma paixão pelo problema. Ele é plenamente correspondido.
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