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Se ButanVac é 100% nacional, Nova York é aqui
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A ButanVac é uma vacina 100% nacional, jactou-se João Doria. A frase ecoa uma logomarca que deixa o governador tucano de São Paulo sem nexo: "Instituto Mount Sinai". Trata-se de um hospital de Nova York. Descobriu-se que foi esse instituto que desenvolveu a tecnologia do novo imunizante, não o Butantan.
Quer dizer: se a ButanVac é integralmente brasileira, Nova York decerto é um outro nome para Vila Madalena. O episódio faz lembrar uma frase de Tancredo Neves: "A esperteza quando é muita come o dono". Equipando-se para 2022, Doria deixou-se mastigar pela politicagem.
Numa cerimônia que requeria um talento de violinista, Doria comportou-se como membro de uma tribo que só conhece a percussão. O Butantan ficaria mais bem-posto na foto com uma vacina sem anabolizantes políticos.
Centenária, a fábrica de vacinas de São Paulo faz um bom papel na pandemia. Até o momento, nove em cada dez braços vacinados no Brasil receberam doses da CoronaVac. Contra esse pano de fundo, iniciar o teste em humanos de uma nova vacina é como fazer um gol na prorrogação.
O feito ganharia a aparência de golaço se Doria e o staff do Butantan tivessem revelado desde o início a parceria com o hospital nova-iorquino. Não há prestígio maior do que um reconhecimento como o que foi feito por Peter Palese, professor do Departamento de Microbiologia do Mount Sinai: "Estamos convencidos de que o Butantan é o parceiro certo para nossa vacina".
O problema de quem lida com a meia verdade é optar pela metade que é mentirosa. A tentativa de apagar as digitais americanas deu ao golaço uma aparência de gol de mão. Ou pior: gol contra.
Ficou entendido que a ButanVac é a primeira vacina anticovid 100% nacional. Manda a honestidade, porém, reconhecer que o índice de nacionalismo do novo imunizante decai quando submetido à variante Doria-2022.
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