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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Exército marcha com Pazuello em ação por improbidade por desastres na Saúde

Jefferson Rudy/Agência Senado
Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Colunista do UOL

03/07/2021 05h20

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Ao assegurar a impunidade a Eduardo Pazuello, livrando-o das sanções disciplinares por ter participado de comício ao lado de Bolsonaro, o Exército meteu-se numa encrenca de mão dupla. Abriu as portas dos seus quarteis para a política. E marchou junto com Pazuello para dentro dos rolos judiciais que o general colecionou na sua passagem pelo Ministério da Saúde.

Ninguém disse ainda, talvez por pena. Mas o Exército faz companhia a Pazuello na ação por improbidade administrativa que o Ministério Público Federal protocolou contra o general na Justiça Federal de Brasília. Subscrita por oito procuradores da República, a peça corre em segredo de Justiça. Nela, Pazuello é acusado de produzir no Ministério da Saúde um desastre sanitário orçado em R$ 122 milhões.

Parte do Estado-Maior do Exército alega que Pazuello cumpriu missão civil na Saúde. Lorota. O argumento era de vidro, pois Pazuello promoveu uma ocupação militar no Ministério da Saúde como oficial da ativa, não como paisano.

A tese trincou quando o general Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército, enviou para o arquivo o processo disciplinar que abrira contra Pazuello. O raciocínio estilhaçou-se na hora em que a blindagem de Pazuello ganhou o selo de segredo de estado, com prazo de validade de cem anos.

Ao enumerar os fiascos produzidos por Pazuello na Saúde, os procuradores sustentam que o general teve "comportamento doloso ilícito." Significa dizer que tinha noção dos danos que causou. Empilharam-se os erros do general.

Por exemplo: retardou a compra de vacinas anti-Covid, adotou um "tratamento precoce" cloroquínico, negligenciou a política de testagem, absteve-se de coordenar a compra de remédios e insumos vitais.

A certa altura, os procuradores anotaram que Pazuello tomou decisões sem critérios técnicos e "por força de influências externas" (pode me chamar de Bolsonaro. Ou de gabinete paralelo). Aos pouquinhos, o general vai descobrindo que, ao adotar o lema segundo o qual "um manda e o outro obedece", aproximou-se da beirada da Terra plana que dá para um precipício judicial.

Nesse contexto, o Exército marcha ao lado de Pazuello como um asterisco incapaz de deter a infecção que Bolsonaro impôs aos quartéis ao converter Pazuello num general de palanque. De repente, os bordões do "meu Exército" e das "minhas Forças Armadas" ganharam concretude.