Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Desprezo pela máscara expõe aliados do vírus
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No Brasil, ensinou o escritor Otto Lara Resende, lei é feito vacina. Há as que pegam e as que não pegam. Em julho de 2020, Bolsonaro assinou a lei 14.019, que torna obrigatório o uso de máscaras de proteção individual em espaços públicos e privados, em vias públicas e nos transportes públicos enquanto durar a pandemia da Covid. Embora exista um consenso planetário sobre a conveniência do uso da máscara, a lei não pegou por completo. É desrespeitada cotidianamente por Bolsonaro, seu subscritor. Descobriu-se que não é levada a sério também pelo ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga.
Em entrevista ao Terça Livre, um canal bolsonarista encrencado com a Justiça por disseminar notícias falsas, Queiroga disse ser contra a obrigatoriedade do uso de máscaras. "O Brasil tem muitas leis", disse o ministro. "E as pessoas, infelizmente, não observam." Para Queiroga, "o uso de máscara tem que ser um ato de conscientização."
Pela lógica, o doutor deveria prover uma ampla campanha para conscientizar os recalcitrantes. Mas Queiroga realiza, a pedido de Bolsonaro, estudos sobre a flexibilização do uso das máscaras. Faz isso num instante em que a variante Delta percorre a atmosfera à procura de encrenca e onze em cada dez infectologistas sustentam que a máscara continua sendo essencial.
Contra esse pano de fundo, o Supremo Tribunal Federal requisitou à Procuradoria-Geral da República que se manifestasse sobre dois pedidos de abertura de inquérito para apurar o desrespeito às normas sanitárias por Bolsonaro durante passeios de moto seguidos de aglomerações. Num dos atos, no Rio Grande do Norte, o presidente estimulou uma menina a tirar a máscara e arrancou o apetrecho do rosto de um menino.
Nada de errado, respondeu a subprocuradora Lindôra Araújo, braço direito do procurador-geral Augusto Aras. Lindôra anotou que não há comprovação da serventia das máscaras. Quanto às crianças, madame declarou que Bolsonaro apenas agiu "de forma descontraída."
No Brasil, o vírus tem aliados poderosos. É como se certas autoridades enxergassem a ciência como ficção científica.
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