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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Togas e fardas têm de aprender a tratar Bolsonaro como a funkeira Anitta

Colunista do UOL

25/04/2022 09h36

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Numa democracia saudável, magistrados se pronunciam em sentenças. E comandantes militares falam para os quarteis. No pântano em que Bolsonaro transformou o sistema político brasileiro, magistrados mordem iscas fora dos autos e militares saracoteiam dentro da política. Essas distorções não existiriam se togas e fardas reagissem às provocações e às manobras de Bolsonaro com o comentário que a cantora Anitta dirigiu ao presidente ao ser cutucada nas redes sociais: "Vai catar o que fazer!"

Em pleno domingo de Carnaval, o ministro do Supremo Luís Barroso disse em evento organizado por uma universidade alemã que as Forças Armadas têm sido "orientadas" a atacar o sistema eleitoral. Por ordem de Bolsonaro, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, respondeu em nota que a fala de Barroso é "irresponsável" e constitui "ofensa grave". Tudo isso num instante em que Bolsonaro acaba de afrontar o Supremo, concedendo a graça do perdão a Daniel Silveira, um brutamontes condenado a quase nove anos de cadeia.

O Brasil enfrenta três flagelos simultâneos: a inflação, o desemprego e a letargia econômica. Candidato à reeleição, Bolsonaro revela-se capaz de tudo, exceto de informar como pretende lidar com os problemas que assediam sua administração. Prefere cultivar o ódio, desacreditar o sistema de votação e estimular a interpretação miliciana do artigo 142 da Constituição, que transformaria as Forças Armadas num psicodélico quarto Poder Moderador.

O Tribunal Superior Eleitoral mordeu a isca de Bolsonaro ao trazer os militares para a discussão sobre a segurança das urnas, colocando um general na comissão de transparência e outro na sua diretoria. O primeiro levanta bolas para Bolsonaro cortar. O segundo foi embora antes de assumir.

Relator do caso Silveira, Alexandre de Moraes deixou de meter medo ao trocar o ambiente dos processos pelos diálogos ao pé do ouvido. Chamado de "canalha" por Bolsonaro no 7 de Setembro, aceitou conversar pelo telefone com o agressor, após mediação do padrinho Michel Temer. Recebeu o ministro Anderson Torres (Justiça) para uma conversa de 4 horas em sua casa.

Só Moraes e seus interlocutores sabem sobre o que conversaram. Mas o comportamento de Bolsonaro indica que o diálogo não surtiu efeito. Quando a disposição dos magistrados para o trololó é muito grande, os delinquentes não costumam respeitar suas sentenças.

Melhor fez a funkeira Anitta que, ao pressentir que Bolsonaro faturava politicamente reagindo às suas postagens, deu um block e mandou o espertalhão procurar o que fazer.

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