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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Inépcia torna 'poder público' impotente em reiteradas tragédias climáticas

Colunista do UOL

30/05/2022 09h23

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O país olha para Pernambuco com a sensação de que assiste à reprise de um filme de terror que todos sabem de antemão que continuará se repetindo nos próximos anos. Depois das tragédias antinaturais que mataram brasileiros em Minas Gerais, Bahia, e Rio de Janeiro, as chuvas que caíram na região metropolitana do Recife, a capital pernambucana, despejam nos jornais, no televisores e nos celulares lama, destroços e mais cadáveres. Tudo isso vem junto com a retórica de autoridades que sobrevoam o problema das enchentes oferecendo novas lamentações depois da reiteração de velhos fatos. A lamentação depois do fato resolve pouca coisa.

Bolsonaro enviou uma comitiva de ministros para Recife no final de semana, antes de sobrevoar a tragédia pessoalmente nesta segunda-feira. Numa evidência de que a democracia brasileira adoeceu, o presidente e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, não se dignaram a trocar um telefonema para analisar como União e estado uniriam esforços no socorro às vítimas. A exemplo da morte, o chamado poder público chega pontualmente nas horas mais incertas para esclarecer à população que há males que vêm para pior.

Todos sabem o que precisa ser feito. No curto prazo: investimentos no sistema tecnológico de acompanhamento do clima, aperfeiçoamento dos planos de alerta em situações de emergência, valorização da Defesa Civil e abandono do negacionismo que trava a percepção de que as mudanças climáticas, com a elevação da temperatura global, potencializam as tragédias. No longo prazo, a implementação de programas habitacionais capazes de oferecer tetos seguros aos brasileiros que são empurrados para as zonas de risco.

O horror das enchentes é repetitivo porque a inépcia de sucessivos governos faz com que velhas tragédias naturais se tornem tragédias estatais. O "poder público" revela-se cada vez mais impotente.